24 de jun. de 2023

Poesia Visual

Escrita e imagem, linguagem e símbolo. Esses elementos se relacionam na poesia visual e expressam uma poética informal que valoriza os efeitos visuais, ou seja, sua estrutura forma imagens. Essas imagens completam o sentido do poema, dando maior expressividade e podendo combinar-se com outras linguagens artísticas.

São produções literárias em que as imagens, formas e tudo o que é capaz de ser captado pela visão; ganham destaque. A união da poesia e outras artes imagéticas e sonoras, como as artes visuais, a música, a dança, etc... Não se restringindo ao uso exclusivo da linguagem verbal.

História do poema visual

A poesia visual ganhou destaque internacional apenas na época do Modernismo, ou seja, foi algo bem recente.

Este movimento literário surgiu após as vanguardas europeias, que revolucionaram o modo de se fazer arte, seja na música, pintura ou literatura.

Esses movimentos foram pensados de forma a romper com os padrões formais das artes que já haviam sido produzidas. Assim, logo após o Modernismo, as formas de poesia visual ganharam força, pois são uma forma de expressão livre.

Na Antiguidade, já foram registrados, em 325 a.C., Símias de Rodes criou o poema intitulado ‘O ovo’, sendo esse o poema visual mais antigo que se tem registro, pelo menos na cultura ocidental. A ideia do poema é mostrar o nascimento do canto, da poesia. A fêmea protege o ovo, mas sabe que após chocar é preciso alçar voo, assim como Hermes que jogou a poesia aos mortais para criarem o canto.


Mallarmé (1842-1898), um importante poeta e crítico literário francês, trabalhou o poema visual no seu famoso poema ‘Un coup de dés jamais n’abolira le hasard‘ (‘Um lance de dados jamais abolirá o acaso’), em que desconsidera as linhas que compunham o verso, denominando-as de ‘subdivisões prismáticas’. Assim, por meio dos espaços em branco deixados no texto, o autor conseguia informar o ritmo do poema, evidenciando as pausas. Depois de Mallarmé, muitos outros autores começaram a desenvolver poesia visual, influenciados pelos movimentos de vanguarda do século XX.



Poema visual no Brasil

Sem dúvidas, o Concretismo foi a maior expressão de poesia visual no Brasil. O movimento, liderado por Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, explorou as possibilidades visuais da poesia no seu limite.

Foi um movimento de vanguarda, principalmente porque a poesia contemporânea se preocupa bastante com a mistura entre linguagem, imagem e símbolo para criar sentidos.

Paulo Leminski foi um poeta paranaense que teve influências que vão desde a geração mimeógrafo até o concretismo.

Outro grande nome foi Ferreira Gullar, poeta que buscou os limites da linguagem poética não só na poesia visual, mas também no interior da própria crise da linguagem que surgiu no século XX. Paulo Leminski representou uma grande diversidade literária, conhecido também por popularizar o haikai na literatura brasileira.

Haroldo de Campos é um dos principais poetas representantes do Concretismo.  A visão do poeta sobre a poética de Mallarmé, no poema ‘um lance de dados’, que foi uma grande influência para os concretistas brasileiros, basicamente explica como que a poesia se tornou pós-moderna com o rompimento da métrica do verso.

É exatamente por considerar o imagético como principal veículo para transmitir a mensagem que a poesia visual nem sempre considera a palavra como o núcleo da obra, mas sim o símbolo. Daí a importância dos arranjos e da organização espacial do poema, pois é isso que caracteriza o poema visual.

Tipos de poema visual

- O caligrama é uma forma de poema visual que dispõe as palavras de modo a formarem um objeto imagético que representam um símbolo. Em um dos poemas mais famosos de Apollinaire, é possível perceber que as palavras formam uma mulher. Outra particularidade do caligrama é que só é permitido usar recursos do mundo da escrita, ou seja, outros traços não são considerados caligramas. O primeiro exemplo, do poema ‘O ovo’, pode ser considerado um caligrama. Confira os principais representantes do caligrama:

·         Guillaume Apollinaire (1880-1918): provavelmente o primeiro poeta a reutilizar essa forma, foi ele que primeiro usou a palavra caligrama. Também foi um dos ativistas de vanguarda mais importantes, defendendo o Cubismo e sendo o inventor do termo Surrealismo;



·      José Juan Tablada (1871-1945): foi um poeta, jornalista e diplomata mexicano. Seu nome está associado aos movimentos modernistas de língua espanhola, sendo o primeiro modernista mexicano;



·     Oliverio Girondo (1891-1967): foi um poeta argentino do movimento de vanguarda;



·     Guillermo Cabrera Infante (1929-2005): foi um escritor cubano, produziu não só poemas visuais, mas também romances, contos, ensaios e roteiros para cinema

- Poesia experimental portuguesa (PO-EX)

O movimento PO-EX foi criado por poetas portugueses inspirados pelos ares do concretismo e da poesia visual do século XX. O movimento foi lançado a partir da revista Poesia Experimental, publicada em 1964 e contou com os seguintes autores:

·         E. M. de Melo e Castro (1932-2020): poeta português que explorou diversos meios e mídias;

·         M. S. Lourenço (1936- 2009): além dos poemas, foi importante para a parte teórica da PO-EX;

·         Ana Hatherly (1929-2015): além de escritora e pintura, Hatherly foi importante por questionar a ideia concretista de que a poesia visual teria sido inventada no século XX. Segundo ela, era preciso incluir no conceito todas as experiências de textos-imagens (hieróglifos, ideogramas, criptogramas, diagramas etc.).

- Concretismo

O movimento a utilizar a poesia visual de modo mais difundido foi o concretismo. Os poemas concretistas, em geral, tinham uma crítica política forte, sobretudo os primeiros autores, na década de 50. Embora o concretismo tenha sido um movimento internacional, a poesia concreta foi, de fato, definida e aplicada pelos irmãos Campos e Décio Pignatari, que escreveram o Manifesto ‘Plano-piloto para poesia concreta’, publicado em São Paulo, em 1958. Além desses três poetas, conheça alguns outros:

·         José Paulo Paes (1926-1998): ainda que tenha participado do concretismo, o estilo de Paes era mais voltado à poética de Oswald de Andrade;



·         José Lino Fabião Grünewald (1931-2000): poeta, tradutor, crítico de cinema, de música popular brasileira e de literatura, Grünewald fez parte do grupo de poetas concretos Noigandres;



·         Arnaldo Augusto Nora Antunes Filho (1960-): Arnaldo Antunes é um músico, poeta e artista visual brasileiro. Além de escrever diversos poemas concretos, é conhecido por ter feito parte das bandas Titãs e Tribalistas.


Outros tipos de poemas visuais

- Poema objeto: um dos maiores poetas a explorar esse gênero foi Ferreira Gullar. O poema objeto utiliza não só a linguagem, mas uma estrutura, em que a interação com o leitor-espectador é imprescindível;

- Infopoesia: é a poesia que utiliza a imagem, mas que é feita exclusivamente por um meio digital, como o computador, celular ou tablet. Um poeta que se aventurou nesse tipo foi Wlademir Dias-Pino;

- Carmina figurata: foi um tipo de poema visual que foi criando no Baixo Império Romano, por volta de 350 e existe até hoje. O poema era composto por uma imagem de cruz e textos que perpassavam a imagem, com temas religiosos. Rabanus Maurus foi um escritor que produzir diversos poemas de carmina figurata.

A própria escrita surgiu de imagens. Desse modo, é natural que exista essa convergência.

Referências:

Teoria da Poesia Concreta (1965) – Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos

INFOPOESIA: Uma poesia transpoética (1997) – E. M. de Melo e Castro

Modernidade e vanguarda em Mallarmé (2017) – Andressa Cristina de Oliveira e Thais de Souza Almeida

Cisne isolado, sujeito deslocado: Mallarmé em diálogo com Apolo, Baudelaire, Andersen e Eduardo Guimaraens (2014) – Bruno Anselmi Matangrano


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