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11 de abr. de 2020

Erico para Mario / Mario para Erico

Erico e Mario Quintana, numa entrevista entre os anos 60 e 70 em seu gabinete/sala de estar.
Do livro A liberdade de escrever - Erico Verissimo

MARIO QUINTANA, “PÉ DE PILÃO” … E EU


Para Mario Quintana (1975)

Meus amigos, na minha opinião Mario Quintana é hoje em dia um dos cinco maiores poetas de todo o Brasil. Pé de Pilão é um livro que ele escreveu para crianças de várias idades, mas que também pode – e deve! - Ser lido por gente grande. Mas... como é que eu entro nessa história toda? Ora, eu não entro. Fico cá do lado de fora da casa do livro, gritando para todos os ouvidos e todos os ventos que o livro é bonito, divertido, faz a gente rir e querer saber “que é que vem depois...” Os desenhos são muito bons e foram feitos por um famoso artista, Edgar Koetz, gaúcho como o autor da aventura.
Conheço Mario Quintana faz uns bons quarenta anos. É o sujeito mais “diferente” que tenho encontrado na vida. Antes de tudo é um poeta, e ser poeta não é apenas fazer versos, prosa com rima (carvão-coração... carinho-passarinho... etc.). Ser poeta é saber ver o mundo como veem os anjos, as fadas, e ao mesmo tempo possuir o dom de comunicar a quem o lê o que ele vê e sente, em resumo, é ter os olhos para revelar a face secreta das pessoas e das coisas. Mario Quintana é um homem que caminha sozinho, como aquele gato do conto inglês. Bom, vou revelar a vocês um segredo. Descobri outro dia que o Quintana na verdade é um anjo disfarçado de homem. Às vezes, quando ele se descuida ao vestir o casaco, suas asas ficam de fora.
(Ah! Como anjo seu nome não é Mario e sim Malaquias).
Quintana é também um mágico, só que suas mágicas são feitas com palavras. Agora, amigos, prestem atenção. Pé de Pilão foi feito todo em versos, isto é, com frases que têm compasso de música, e com rimas. Quem já souber ler, que leia este conto em voz alta e clara. Se não souber, peça a outra pessoa – mãe, pai, irmão ou irmã mais velha, babá, alguma titia... - que se encarregue disso. E se durante a leitura por acaso aparecer na história alguma palavra que vocês nunca tenham visto antes, perguntem a quem sabe, o que ela significa. É assim que a gente aprende sua própria língua... e a dos estrangeiros.
Pois é. Deixo com vocês o caso do Pé de Pilão, que se vai transformando, de verso em verso, no caso de outros personagens, bem como um rio que vai correndo para o mar e encontrando no caminho pessoas, animais e coisas que o leitor não esperava. Leiam esta história – ou escutem sua leitura – mais de uma vez. E se alguém um dia perguntar quem é Mario Quintana, podem responder sem medo de errar que ele é um dos melhores poetas do nosso Brasil. É isto o que pensa quem gosta dele como de um irmão, um tal de

Erico Verissimo


Erico Verissimo foi um dos grandes amigos de Mario Quintana. Para o autor de O Tempo e o Vento, Mario escreveu “Canção da Primavera”. A poesia integra seu livro Canções.

Canção da Primavera

Para Erico Veríssimo - Canções 1946
Primavera cruza o rio
Cruza o sonho que tu sonhas.
Na cidade adormecida
Primavera vem chegando.
Catavento enlouqueceu,
Ficou girando, girando.
Em torno do catavento
Dancemos todos em bando.
Dancemos todos, dancemos,
Amadas, Mortos, Amigos,
Dancemos todos até
Não mais saber-se o motivo. . .
Até que as paineiras tenham
Por sobre os muros florido!
Mario Quintana

Para Erico Verissimo O dia abriu seu pára-sol bordado De nuvens e de verde ramaria. E estava até um fumo, que subia, Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado. Depois surgiu, no céu azul arqueado, A Lua – a Lua! – Em pleno meio-dia. Na rua, um menininho que seguia Parou, ficou a olhá-la admirado… Pus meus sapatos na janela alta, Sobre o rebordo… Céu é que lhes falta Pra suportarem a existência rude! E eles sonham, imóveis, deslumbrados, Que são dois velhos barcos, encalhados Sobre a margem tranquila de um açude…
Mario Quintana

11 de set. de 2014

Cartas a personagens literários

Gosta de cartas e literatura?
Então você não pode perder a ação que preparamos na biblioteca durante os meses de setembro e outubro!
A seguir você poderá conferir todas as informações para participar.





A ação foi inspirada no blog Letters with character, que reúne cartas de pessoas reais escritas para personagens literários.
Apresentamos traduções de algumas cartas publicadas no blog. Inspire-se para nos escrever a sua! 


Jorge Luis Borges | "A biblioteca de Babel" | 1941


Querido narrador,


Eu encontrei o livro que você estava procurando. 

Você pode retirá-lo no balcão de informações quando estiver saindo.

Agradeço sua paciência.


Sinceramente,
Charles London

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Marcel Proust | Em busca do tempo perdido | 1913-1927

Querido narrador,


Eu confesso estar constrangida por lhe escrever em inglês. Esta não é o seu, tampouco o meu idioma nativo. E é também um idioma que não domino perfeitamente. No entanto, o que tenho a dizer é bem fácil. Eu te amo. Je t'aime. Ti amo.



Suponho que eu não seja o seu tipo. Não sou nenhum Gilberte ou uma Albertine. Mas eu não ligo, narrador. Meu amor por você é o mais puro. É o amor perfeito que não pode ser experienciado em nenhum lugar, a não ser em nossas mentes. É o amor por um homem cuja sensibilidade eu considero tão similar à minha que quando leio suas palavras posso me imaginar as escrevendo. O amor por uma imagem no espelho. O amor que nos faz sofrer todo o tempo em que sentimos saudade de um amante e a promessa de uma impossível, perfeita união. Sinto sua falta em todo os amantes que perdi, meu querido narrador.


Para sempre sua,
Elisa Caldarola
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Jack Kerouac | Na estrada | 1957


Caro Sal,

Arranje um emprego.



Sinceramente,

Glen Binger

P.S. Diga a Dean para me devolver meus trinta dólares, aquele filho da mãe mentiroso.

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Albert Camus | O estrangeiro | 1942


Meursault,


Estive me esforçando para compreender seu personagem e sua crença no absurdo desde que terminei de ler sobre você. Só posso dizer que isso tem sido em vão. Talvez eu seja muito sensível, muito emotivo para aceitar que a vida não tem sentido. Estou mais disposta a acreditar que existe um sentido para tudo o que acontece aqui do que  a acreditar que não há. Isso provavelmente não faz nenhum sentido para você mas, novamente, você não faz nenhum sentido para mim. Vou deixá-lo agora.



Saudações,

Anjanie Pandey

A Livraria do Globo da Rua da Praia

  A escultura de ferro no topo do prédio da Rua dos Andradas (Rua da Praia), talvez continue despercebida devido à pressa dos dias de hoje. ...