23 de abr. de 2020

Tempo de Mario Quintana


"SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS" ou "O Tempo" - livro Esconderijos do Tempo - 1980


A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.


Quando se vê, 
já são seis horas!
Quando de vê, 
já é sexta-feira!
Quando se vê, 
já é natal…
Quando se vê, 
já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, 
outra oportunidade, 
eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: 
não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.


O Tempo e o Vento


Havia uma escada que parava de repente no ar
Havia uma porta que dava para não se sabia o quê
Havia um relógio onde a morte tricotava o tempo


Mas havia um arroio correndo entre os dedos buliçosos dos pés
E pássaros pousados na pauta dos fios do telégrafo


E o vento!


O vento que vinha desde o princípio do mundo
Estava brincando com teus cabelos...



Ah! Os relógios - livro “A Cor do invisível”, 1989.

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:

não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna somente por si mesma é dividida:não cabe, a cada qual, uma porção.


E os Anjos entreolham-se espantados quando alguém - ao voltar a si da vida -acaso lhes indaga que horas são...

11 de abr. de 2020

Erico para Mario / Mario para Erico

Erico e Mario Quintana, numa entrevista entre os anos 60 e 70 em seu gabinete/sala de estar.
Do livro A liberdade de escrever - Erico Verissimo

MARIO QUINTANA, “PÉ DE PILÃO” … E EU


Para Mario Quintana (1975)

Meus amigos, na minha opinião Mario Quintana é hoje em dia um dos cinco maiores poetas de todo o Brasil. Pé de Pilão é um livro que ele escreveu para crianças de várias idades, mas que também pode – e deve! - Ser lido por gente grande. Mas... como é que eu entro nessa história toda? Ora, eu não entro. Fico cá do lado de fora da casa do livro, gritando para todos os ouvidos e todos os ventos que o livro é bonito, divertido, faz a gente rir e querer saber “que é que vem depois...” Os desenhos são muito bons e foram feitos por um famoso artista, Edgar Koetz, gaúcho como o autor da aventura.
Conheço Mario Quintana faz uns bons quarenta anos. É o sujeito mais “diferente” que tenho encontrado na vida. Antes de tudo é um poeta, e ser poeta não é apenas fazer versos, prosa com rima (carvão-coração... carinho-passarinho... etc.). Ser poeta é saber ver o mundo como veem os anjos, as fadas, e ao mesmo tempo possuir o dom de comunicar a quem o lê o que ele vê e sente, em resumo, é ter os olhos para revelar a face secreta das pessoas e das coisas. Mario Quintana é um homem que caminha sozinho, como aquele gato do conto inglês. Bom, vou revelar a vocês um segredo. Descobri outro dia que o Quintana na verdade é um anjo disfarçado de homem. Às vezes, quando ele se descuida ao vestir o casaco, suas asas ficam de fora.
(Ah! Como anjo seu nome não é Mario e sim Malaquias).
Quintana é também um mágico, só que suas mágicas são feitas com palavras. Agora, amigos, prestem atenção. Pé de Pilão foi feito todo em versos, isto é, com frases que têm compasso de música, e com rimas. Quem já souber ler, que leia este conto em voz alta e clara. Se não souber, peça a outra pessoa – mãe, pai, irmão ou irmã mais velha, babá, alguma titia... - que se encarregue disso. E se durante a leitura por acaso aparecer na história alguma palavra que vocês nunca tenham visto antes, perguntem a quem sabe, o que ela significa. É assim que a gente aprende sua própria língua... e a dos estrangeiros.
Pois é. Deixo com vocês o caso do Pé de Pilão, que se vai transformando, de verso em verso, no caso de outros personagens, bem como um rio que vai correndo para o mar e encontrando no caminho pessoas, animais e coisas que o leitor não esperava. Leiam esta história – ou escutem sua leitura – mais de uma vez. E se alguém um dia perguntar quem é Mario Quintana, podem responder sem medo de errar que ele é um dos melhores poetas do nosso Brasil. É isto o que pensa quem gosta dele como de um irmão, um tal de

Erico Verissimo


Erico Verissimo foi um dos grandes amigos de Mario Quintana. Para o autor de O Tempo e o Vento, Mario escreveu “Canção da Primavera”. A poesia integra seu livro Canções.

Canção da Primavera

Para Erico Veríssimo - Canções 1946
Primavera cruza o rio
Cruza o sonho que tu sonhas.
Na cidade adormecida
Primavera vem chegando.
Catavento enlouqueceu,
Ficou girando, girando.
Em torno do catavento
Dancemos todos em bando.
Dancemos todos, dancemos,
Amadas, Mortos, Amigos,
Dancemos todos até
Não mais saber-se o motivo. . .
Até que as paineiras tenham
Por sobre os muros florido!
Mario Quintana

Para Erico Verissimo O dia abriu seu pára-sol bordado De nuvens e de verde ramaria. E estava até um fumo, que subia, Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado. Depois surgiu, no céu azul arqueado, A Lua – a Lua! – Em pleno meio-dia. Na rua, um menininho que seguia Parou, ficou a olhá-la admirado… Pus meus sapatos na janela alta, Sobre o rebordo… Céu é que lhes falta Pra suportarem a existência rude! E eles sonham, imóveis, deslumbrados, Que são dois velhos barcos, encalhados Sobre a margem tranquila de um açude…
Mario Quintana

9 de abr. de 2020

Majestic Hotel - Um tradicional hotel e sua história.

O prédio do Hotel Majestic foi fruto da ousadia empresarial de Horácio Carvalho.


  • Horácio Carvalho

Horácio Carvalho


Horácio Carvalho -(Alegrete, 1860 – Porto Alegre, 1938) tornou-se um comerciante de sucesso, antes mesmo dos anos 1940.
Depois de trazer sal e açúcar do Nordeste, adotou novos empreendimentos, como a importação de cimento e ferro da Alemanha, de outros materiais de construção, além de continuar com os negócios de origem.
Ele comprou, então, extensos terrenos à beira do Guaíba, onde mandou construir trapiches, para ali atracarem navios. Construiu, também, armazéns que tomavam parte da Rua Sete de Setembro, da Rua Júlio de Castilhos e da Siqueira Campos. Em suas viagens à Europa, encantou-se com o bom gosto e a solidez dos prédios que estavam sendo construídos. Como queria, além de sua vida de empresário, revolucionar também a arquitetura da cidade, estendeu sua audácia, desejando um prédio que se destacasse entre os demais, e que fosse reconhecido e identificado ao primeiro olhar.
A potencialidade do setor foi percebida pelo empresário Horácio de Carvalho, homem ligado ao ramo da importação e exportação.
Horácio Carvalho encontrou no jovem arquiteto alemão Theodor Alexander Josef Wiederspahn, o profissional reconhecido, com visão e estilo, que não tinha receio de utilizar novas ideias.
A proposta inicial consistia num edifício com térreo, mais cinco pavimentos e duas alas, uma de cada lado da travessa, ligadas por passarelas suspensas.

  • O Arquiteto
Theo Wiederspahn, arquiteto, nascido em Wiesbaden, Alemanha, morando no Brasil desde 1908. Em Porto Alegre projetou a Delegacia Fiscal (atual MARGS), Correios e Telégrafos (atual Memorial do Rio Grande do Sul), Secretaria da Fazenda, Edifício Ely (atual Tumelero), Cervejaria Bopp (depois Brahma, atual Shopping Total) e muitos outros prédios e residências que marcaram época, era empregado de uma grande construtora.
Em 27 de maio de 1913, os trâmites da construção começaram por intermédio do processo 1352/13, entrou na Intendência Municipal (Prefeitura) com um pedido de licença para pagamento de impostos referentes à construção do edifício do futuro hotel.
A seguir, o Sr. Horácio Carvalho contratou a firma do engenheiro Rudolf Ahrons, ficando o projeto a cargo de seu mais importante funcionário Theodor Wiederspahn, arquiteto.
O prédio seria implantado num terreno à Rua da Praia, entre as atuais ruas João Manoel e Bento Martins, e cortado pela Travessa Araújo Ribeiro.
O projeto de Theo era belo, novo, impressionante: - dois blocos de cinco andares, separados pela Travessa Araújo Ribeiro e ligados por cima desta, a partir do segundo andar, por passarelas vazadas e sustentadas por pilares.
Primeiro grande edifício de Porto Alegre em que se utilizou concreto armado, foi concebido para ocupar os dois lados da Travessa Araújo Ribeiro. Interligando a construção, grandes passarelas, embasadas por arcadas e, contendo terraços, sacadas e colunas.

O projeto do hotel foi considerado muito ousado para a cidade, pois a idéia das passarelas suspensas sobre a via pública era inédita por aqui.
O início da Primeira Guerra Mundial atrapalhou.

Em 1916, iniciaram as obras do Hotel Majestic.

  • O Embargo
A execução da obra é embargada pelo então Presidente do Estado, Borges de Medeiros, que alegava o alto risco estrutural apresentado pelas passarelas. Foi construída, assim, apenas a ala oeste do edifício, com quatro pavimentos e 150 quartos.



Em 1918, é concluindo a primeira parte do edifício, inicialmente administrado por Horácio de Carvalho, passa a funcionar como pensão de boa categoria e abrigar, no salão térreo, a Companhia Sulford de Veículos.

Em 1923, o prédio foi arrendado para aos irmãos espanhóis Jayme, Domingos, Ramon e Pedro Masgrau da empresa Masgrau Irmãos e Cia., que lhe deram o nome de Majestic Hotel.
A administração da parte hoteleira ficou a cargo dos irmãos, e Horácio Carvalho não tinha ingerência sobre ela.
A vida do Hotel Majestic iniciou realmente neste ano, com o arrendamento do prédio, aos imigrantes espanhóis que se estabeleceram no Brasil e ligaram-se ao ramo da importação e exportação.
O hotel foi totalmente reequipado na sua parte interna, tendo sido renovado o mobiliário, cortinas, serviços de mesa, e decoração. Os quartos e os ambientes foram redecorados pela firma Gerdau dando-lhes um impulso e vida nova.
De acordo com Silva (1992) o ambiente do hotel “era sóbrio, elegante e agradável”.
O hotel transformou-se em um marco histórico no desenvolvimento e modernização de Porto Alegre, com uma localização privilegiada, quase às margens do Guaíba que, na época, ia até onde atualmente é a Avenida Mauá.
Um trapiche trazia diretamente os hóspedes ao Hotel.


A partir da década de 1920, o Hotel Majestic, Bem frequentado - famílias do interior que traziam os filhos para estudar na capital, casais de bom poder aquisitivo que ali estabeleciam residência, militares e algumas figuras importantes da política e das artes, o Majestic começa a sua fase áurea e passa a ser o principal concorrente do Grande Hotel, que, sem dúvida, absorvia a clientela mais proeminente, quando Porto Alegre, com pouco mais de cem mil habitantes, sofre processo de desenvolvimento econômico consequente à chegada de grande contingente de imigrantes europeus.
Os novos donos do poder, provenientes do sistema pecuarista-latifundiário, adotavam uma orientação que tendia à modernização do aparato estatal e dos meios de produção, incentivando a ascensão de uma burguesia urbana que conseguira acumular imensos capitais à custa de agricultores educados em seculares relações de submissão. Esses capitais permitiram a estruturação de uma sólida rede bancária que financiava a instalação de numerosas fábricas e um desenvolvimento econômico e social inéditos em Porto Alegre.

Em 1926, foi projetada a ala leste, a segunda parte do projeto, estando localizado, na Rua da Praia, número 54.





Em 1927, por influência do Intendente Municipal (Prefeito) Dr. Otávio Rocha, o Presidente do Estado (Governador) Sr. Borges de Medeiros concede licença para a continuação das obras do hotel.
Em 1929, depois da obra terminada, constitui-se no maior hotel da cidade com 300 quartos e 310 banheiros, todos com luz e ar diretos, alguns apartamentos especiais para famílias, salão de refeições de 1125m², funcionando no quinto andar, permitia acomodação para 600 pessoas.





O Majestic foi classificado como um hotel modelo e confortável, e foi um marco histórico no desenvolvimento e modernização da cidade. Por ficar nas margens do Guaíba que naquela época ia até a Avenida Mauá, possuía um trapiche que trazia os hóspedes diretamente ao hotel.

Em 1933, o Majestic possuía sete pavimentos na ala leste e cinco na ala oeste. O projeto com passarelas suspensas, arcadas para embasamento das passarelas, sacadas, terraços e colunas foi considerado ousado naquela época, foi também o primeiro edifício onde se utilizou o ‘concreto armado’.

  • Interação de Alas
A nova ala, a leste, era composta de seis pavimentos, produzindo uma assimetria no edifício que, apesar de indesejada, acabou sendo definitiva. Destacava-se de seus vizinhos, casas residenciais e comerciais baixas, não só pelo porte, mas também pela originalidade morfológica - passarelas suspensas, sacadas internas, grandes cúpulas superiores - e pela imponência eclética, com adornos altamente decorativos.




Sua linguagem inspirada nos moldes do século XIX, escondia, entretanto, uma técnica construtiva avançada, transição da arquitetura de paredes autoportante para a de estrutura independente. Possuía caixa externa portante, sem pilares internos, mas com lajes e vigas de concreto armado. Os grandes espaços, formando um sistema de pórticos, foram repartidos originalmente por alvenaria leve e estuque.
O térreo era comercial e os acessos ao hotel davam-se pela Travessa Araújo Ribeiro, bem no centro de cada ala, sob as passarelas centrais. O requintado lobby, de pé-direito alto e marcado por duas grandes colunas revestidas de mármore, tinha ao fundo a escada e os elevadores que desembocavam, a cada pavimento, em um amplo saguão frontal à passarela central, que servia como espaço de convívio.



Formavam-se, desta forma, dois tipos de percurso dentro do hotel: um transversal-vertical, amplo, semipúblico, ligando lobby, saguões, passarelas e salas coletivas do último andar; outro longitudinal-horizontal, contido, reservado, através dos corredores de ligação das células habitacionais.

  • As Passarelas de Ligação
O percurso transversal-vertical proporcionava um interessante jogo entre espaços internos, externos, públicos e privados: num extremo estava a travessa, espaço aberto que permitia o encontro entre hóspedes e passantes; no meio do percurso estavam as salas de estar, ora protegidas por paredes, ora na forma de grandes varandas abertas ao exterior, próprias para encontros entre hóspedes; no extremo superior ficavam restaurante e salão de baile, onde aconteciam eventos sociais que reuniam os membros mais seletos da comunidade porto-alegrense.
O percurso longitudinal-horizontal, introvertido, caracterizava o movimento no pavimento-tipo, em fita dupla, com células habitacionais voltadas para a travessa e serviços de apoio, sanitários coletivos e circulação vertical ao longo das divisas, recortadas por quatro estreitos poços. A disposição das células permitia sua iluminação e ventilação direta, o que constituía exceção numa época em que os quartos de hotéis eram climatizados, em grande parte, através de poços internos.


  • O Espaço



A verdadeira chave do projeto era, sem dúvida, a travessa Araújo Ribeiro (hoje travessa dos Cataventos). Ao incorporá-la ao hotel, Theo Wiederspahn criou um espaço ao mesmo tempo aberto e contido, com zonas de expansão e retração, com alternância de alturas e luminosidade; nem tão privado que constituísse uma barreira aos passantes, mas nem tão público que não funcionasse como filtro aos transeuntes da cidade. Sua escala era agradável. As varandas privadas conferiam-lhe um ar familiar, de vizinhança; as passarelas e cúpulas davam-lhe “monumentalidade”

Era o “coração” do hotel, seu centro de convívio e integração.
Os anos 1930 e 1940, no apogeu do Majestic, Porto Alegre dispunha de muitos atrativos, várias companhias de revista por aqui transitavam, seguindo depois para Montevideo e Buenos Aires.
O ambiente sofisticado, com mármores portugueses nas escadarias e nos pisos, os gradis das sacadas, a refinada cozinha e a orquestra tocando todas as noites atraíram hóspedes ilustres, como: - Getúlio Vargas, Osvaldo Aranha, João Neves da Fontoura, Lindolfo Collor e João Goulart, ou artistas como Francisco Alves, na época o maior cantor do Brasil, e a vedete Virgínia Lane, a preferida do Presidente Getúlio Vargas.

  • O Declínio
No final dos anos 1940, marcaram o início do declínio do Majestic Hotel, que tem sua fisionomia gradativamente alterada.
O caso de uma Época
Nos anos 1950, iniciou-se o processo de desgaste do hotel. A nova administração passou a não selecionar os hóspedes e logo as pessoas de alto poder aquisitivo ou prestígio foram substituídas por caixeiros-viajantes.
O período denominado de "desenvolvimentista" não foi bom para o Majestic, que, vítima da desfiguração que atingiu o centro da maioria das cidades, ainda sofria a concorrência de novos hotéis, com instalações mais modernas e amplas.
Além de tudo, a antiga localização, antes privilegiada, agora era problemática. As elites saíram do centro e foram instalar-se em bairros diferenciados. O centro tornou-se local de serviços diurnos, com um comércio agitado que fechava suas portas à noite, quando a Rua dos Andradas se transformava em local perigoso. As pessoas não viajavam mais nos vapores, o muro da Mauá impedia o acesso livre ao porto e a construção da nova rodoviária proporcionara o surgimento de vários hotéis a sua volta.

Na década de 1960, após sucessivas mudanças administrativas, passou a não selecionar os hóspedes e logo as pessoas de alto poder aquisitivo ou prestígio foram substituídas por lutadores de "cath" e luta livre que substituíram antigos hóspedes, além de solteiros, viúvos, boêmios e poetas solitários como Mario Quintana, que ali hospedou-se de 1968 a 1980, o tradicional estabelecimento passa a funcionar como uma espécie de pensão mensalista, lar de antigos clientes, pequenos funcionários, aposentados, idosos.
Ao final, dos 300 quartos, passou a ter funcionando pouco menos de 100.
Na década de 1970, o edifício foi posto à venda, em dez anos, apenas dois interessados surgiram, os quais desanimaram frente às reais condições do prédio.

  • Da pressão popular surge uma Casa de Cultura.
No final dos anos 1970, surgiu toda uma discussão entre a população sobre nosso patrimônio cultural. Uma das consequências foi a realização de um levantamento dos prédios antigos, com o fim de resgatar e preservar sua arquitetura.
A humanização da área central da cidade também entrou na discussão e vários prédios foram tombados pelos órgãos do patrimônio histórico.
Em 1980, foi anunciado e realizado um leilão com os móveis e utensílios do Hotel Majestic, que hoje encontram-se dispersos e em mãos de particulares.
Em julho de 1980, o prédio foi adquirido pelo Banrisul – Banco do Estado do Rio Grande do Sul, no governo Amaral de Souza. O negócio foi feito para que o governo do Estado pudesse comprá-lo, já que não tinha verba suficiente para o valor real.
Em 29 de dezembro de 1982, o governo do Estado adquiriu o Majestic Hotel do Banrisul.
Em 1983, o Hotel Majestic é tombado pelo Patrimônio Histórico.
A partir de 1983, os prefeitos, propuseram projetos para remodelar a área central e o Majestic foi lembrado nessa movimentação da população pela valorização de sua história. Mas antes disso muito se perdeu.
Em 1983, em seguida, o Majestic foi arrolado como prédio de valor histórico e iniciada sua transformação em Casa de Cultura.
No mesmo ano, através da lei 7803 de 08 de julho, recebeu a denominação de Mário Quintana, passando a fazer parte da Subsecretaria de Cultura do Estado.


Fonte: http://lealevalerosa.blogspot.com/2015/11/hoteis-porto-alegre-antigo-surgimento.html




– MUNDOS
Um elevador lento e de ferragens Belle Époque
me leva ao antepenúltimo andar do Céu,
cheio de espelhos baços e de poltronas como o hall
de qualquer um antigo Grande Hotel,
mas deserto, deliciosamente deserto
de jornais falados e outros fantasmas da TV,
pois só se vê, ali, o que ali se vê
e só se escuta mesmo o que está bem perto:
é um mundo nosso, de tocar com os dedos,
não este — onde a gente nunca está, ao certo,
no lugar em que está o próprio corpo
mas noutra parte, sempre do lado de lá!
não, não este mundo — onde um perfil é paralelo ao outro
e onde nenhum olhar jamais se encontrará…

Mario Quintana, Apontamentos de história sobrenatural

2 de abr. de 2020

Algumas obras principais de Erico Verissimo encontradas em vídeo

Estes vídeos são para auxiliar na compreensão da obra de Érico Veríssimo, não substituindo, portanto, a leitura do livro na íntegra.

Primeiro best-seller de Erico Verissimo, Olhai os lírios do campo representou uma guinada na carreira literária do escritor. Eugênio Pontes, moço de origem humilde, a custo se forma médico e, graças a um casamento por interesse, ingressa na elite da sociedade. Nesse percurso, porém, é obrigado a virar as costas para a família, deixar de lado antigos ideais humanitários e abandonar a mulher que realmente ama. Esta obra é um convite à reflexão sobre os valores autênticos da vida.
Em dezembro de 1963, uma sexta-feira 13, a matriarca Quitéria Campolargo arregala os olhos em sua tumba, imaginando estar frente a frente com o Criador. Mas logo descobre que está do lado de fora do cemitério da cidade de Antares, junto com outros seis cadáveres, mortos-vivos como ela, todos insepultos. Uma greve geral na cidade, à qual até os coveiros aderiram, impede o enterro dos mortos. O que fazer? Em Incidente em Antares, Erico Verissimo faz uma sátira política contundente e hilariante que, mesmo lançada em 1971, em plena ditadura militar, não teve receio de abordar temas como tortura, corrupção e mandonismo.

Obra de grande força imaginativa, Ana Terra pertence à trilogia de O tempo e o vento. O livro conta a história da personagem Ana Terra, que mora com os pais e dois irmãos no interior gaúcho, na segunda metade do século XVIII. Única filha mulher, ela é impedida de comprar um espelho, objeto fútil nesse ambiente austero. Sem ter onde mirar-se, só pode contemplar sua figura na superfície do regato onde lava a roupa da família.
Quando Rodrigo Cambará surge no povoado de Santa Fé, parece chamar encrenca. Com a patente de capitão, obtida no combate com os castelhanos, é apreciador da cachaça, das cartas e das mulheres. Homem de espírito livre, não combina com os habitantes pacatos do local, mantidos no cabresto pelo despótico coronel Ricardo Amaral Neto. Mas depois de conhecer Bibiana Terra, nada convence Rodrigo a arredar o pé da aldeia. Nem a aspereza de Pedro, pai de Bibiana, nem a zanga do coronel, que não vê com bons olhos os modos do capitão. Ele está apaixonado por ela e quer casar-se. 

Música ao longe retrata a decadência econômica e moral da rica e tradicional família Albuquerque, de Jacarenga, interior do Rio Grande do Sul, sob o ponto de vista da ingênua Clarissa. Personagem do romance homônimo (Clarissa, lançado em 1933), a adolescente de 16 anos é considerada a mais autêntica de todos os personagens de Erico Verissimo. Nesse romance, Clarissa dá seus primeiros passos em direção à vida adulta e à maturidad.

A Livraria do Globo da Rua da Praia

  A escultura de ferro no topo do prédio da Rua dos Andradas (Rua da Praia), talvez continue despercebida devido à pressa dos dias de hoje. ...