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9 de abr. de 2020

Majestic Hotel - Um tradicional hotel e sua história.

O prédio do Hotel Majestic foi fruto da ousadia empresarial de Horácio Carvalho.


  • Horácio Carvalho

Horácio Carvalho


Horácio Carvalho -(Alegrete, 1860 – Porto Alegre, 1938) tornou-se um comerciante de sucesso, antes mesmo dos anos 1940.
Depois de trazer sal e açúcar do Nordeste, adotou novos empreendimentos, como a importação de cimento e ferro da Alemanha, de outros materiais de construção, além de continuar com os negócios de origem.
Ele comprou, então, extensos terrenos à beira do Guaíba, onde mandou construir trapiches, para ali atracarem navios. Construiu, também, armazéns que tomavam parte da Rua Sete de Setembro, da Rua Júlio de Castilhos e da Siqueira Campos. Em suas viagens à Europa, encantou-se com o bom gosto e a solidez dos prédios que estavam sendo construídos. Como queria, além de sua vida de empresário, revolucionar também a arquitetura da cidade, estendeu sua audácia, desejando um prédio que se destacasse entre os demais, e que fosse reconhecido e identificado ao primeiro olhar.
A potencialidade do setor foi percebida pelo empresário Horácio de Carvalho, homem ligado ao ramo da importação e exportação.
Horácio Carvalho encontrou no jovem arquiteto alemão Theodor Alexander Josef Wiederspahn, o profissional reconhecido, com visão e estilo, que não tinha receio de utilizar novas ideias.
A proposta inicial consistia num edifício com térreo, mais cinco pavimentos e duas alas, uma de cada lado da travessa, ligadas por passarelas suspensas.

  • O Arquiteto
Theo Wiederspahn, arquiteto, nascido em Wiesbaden, Alemanha, morando no Brasil desde 1908. Em Porto Alegre projetou a Delegacia Fiscal (atual MARGS), Correios e Telégrafos (atual Memorial do Rio Grande do Sul), Secretaria da Fazenda, Edifício Ely (atual Tumelero), Cervejaria Bopp (depois Brahma, atual Shopping Total) e muitos outros prédios e residências que marcaram época, era empregado de uma grande construtora.
Em 27 de maio de 1913, os trâmites da construção começaram por intermédio do processo 1352/13, entrou na Intendência Municipal (Prefeitura) com um pedido de licença para pagamento de impostos referentes à construção do edifício do futuro hotel.
A seguir, o Sr. Horácio Carvalho contratou a firma do engenheiro Rudolf Ahrons, ficando o projeto a cargo de seu mais importante funcionário Theodor Wiederspahn, arquiteto.
O prédio seria implantado num terreno à Rua da Praia, entre as atuais ruas João Manoel e Bento Martins, e cortado pela Travessa Araújo Ribeiro.
O projeto de Theo era belo, novo, impressionante: - dois blocos de cinco andares, separados pela Travessa Araújo Ribeiro e ligados por cima desta, a partir do segundo andar, por passarelas vazadas e sustentadas por pilares.
Primeiro grande edifício de Porto Alegre em que se utilizou concreto armado, foi concebido para ocupar os dois lados da Travessa Araújo Ribeiro. Interligando a construção, grandes passarelas, embasadas por arcadas e, contendo terraços, sacadas e colunas.

O projeto do hotel foi considerado muito ousado para a cidade, pois a idéia das passarelas suspensas sobre a via pública era inédita por aqui.
O início da Primeira Guerra Mundial atrapalhou.

Em 1916, iniciaram as obras do Hotel Majestic.

  • O Embargo
A execução da obra é embargada pelo então Presidente do Estado, Borges de Medeiros, que alegava o alto risco estrutural apresentado pelas passarelas. Foi construída, assim, apenas a ala oeste do edifício, com quatro pavimentos e 150 quartos.



Em 1918, é concluindo a primeira parte do edifício, inicialmente administrado por Horácio de Carvalho, passa a funcionar como pensão de boa categoria e abrigar, no salão térreo, a Companhia Sulford de Veículos.

Em 1923, o prédio foi arrendado para aos irmãos espanhóis Jayme, Domingos, Ramon e Pedro Masgrau da empresa Masgrau Irmãos e Cia., que lhe deram o nome de Majestic Hotel.
A administração da parte hoteleira ficou a cargo dos irmãos, e Horácio Carvalho não tinha ingerência sobre ela.
A vida do Hotel Majestic iniciou realmente neste ano, com o arrendamento do prédio, aos imigrantes espanhóis que se estabeleceram no Brasil e ligaram-se ao ramo da importação e exportação.
O hotel foi totalmente reequipado na sua parte interna, tendo sido renovado o mobiliário, cortinas, serviços de mesa, e decoração. Os quartos e os ambientes foram redecorados pela firma Gerdau dando-lhes um impulso e vida nova.
De acordo com Silva (1992) o ambiente do hotel “era sóbrio, elegante e agradável”.
O hotel transformou-se em um marco histórico no desenvolvimento e modernização de Porto Alegre, com uma localização privilegiada, quase às margens do Guaíba que, na época, ia até onde atualmente é a Avenida Mauá.
Um trapiche trazia diretamente os hóspedes ao Hotel.


A partir da década de 1920, o Hotel Majestic, Bem frequentado - famílias do interior que traziam os filhos para estudar na capital, casais de bom poder aquisitivo que ali estabeleciam residência, militares e algumas figuras importantes da política e das artes, o Majestic começa a sua fase áurea e passa a ser o principal concorrente do Grande Hotel, que, sem dúvida, absorvia a clientela mais proeminente, quando Porto Alegre, com pouco mais de cem mil habitantes, sofre processo de desenvolvimento econômico consequente à chegada de grande contingente de imigrantes europeus.
Os novos donos do poder, provenientes do sistema pecuarista-latifundiário, adotavam uma orientação que tendia à modernização do aparato estatal e dos meios de produção, incentivando a ascensão de uma burguesia urbana que conseguira acumular imensos capitais à custa de agricultores educados em seculares relações de submissão. Esses capitais permitiram a estruturação de uma sólida rede bancária que financiava a instalação de numerosas fábricas e um desenvolvimento econômico e social inéditos em Porto Alegre.

Em 1926, foi projetada a ala leste, a segunda parte do projeto, estando localizado, na Rua da Praia, número 54.





Em 1927, por influência do Intendente Municipal (Prefeito) Dr. Otávio Rocha, o Presidente do Estado (Governador) Sr. Borges de Medeiros concede licença para a continuação das obras do hotel.
Em 1929, depois da obra terminada, constitui-se no maior hotel da cidade com 300 quartos e 310 banheiros, todos com luz e ar diretos, alguns apartamentos especiais para famílias, salão de refeições de 1125m², funcionando no quinto andar, permitia acomodação para 600 pessoas.





O Majestic foi classificado como um hotel modelo e confortável, e foi um marco histórico no desenvolvimento e modernização da cidade. Por ficar nas margens do Guaíba que naquela época ia até a Avenida Mauá, possuía um trapiche que trazia os hóspedes diretamente ao hotel.

Em 1933, o Majestic possuía sete pavimentos na ala leste e cinco na ala oeste. O projeto com passarelas suspensas, arcadas para embasamento das passarelas, sacadas, terraços e colunas foi considerado ousado naquela época, foi também o primeiro edifício onde se utilizou o ‘concreto armado’.

  • Interação de Alas
A nova ala, a leste, era composta de seis pavimentos, produzindo uma assimetria no edifício que, apesar de indesejada, acabou sendo definitiva. Destacava-se de seus vizinhos, casas residenciais e comerciais baixas, não só pelo porte, mas também pela originalidade morfológica - passarelas suspensas, sacadas internas, grandes cúpulas superiores - e pela imponência eclética, com adornos altamente decorativos.




Sua linguagem inspirada nos moldes do século XIX, escondia, entretanto, uma técnica construtiva avançada, transição da arquitetura de paredes autoportante para a de estrutura independente. Possuía caixa externa portante, sem pilares internos, mas com lajes e vigas de concreto armado. Os grandes espaços, formando um sistema de pórticos, foram repartidos originalmente por alvenaria leve e estuque.
O térreo era comercial e os acessos ao hotel davam-se pela Travessa Araújo Ribeiro, bem no centro de cada ala, sob as passarelas centrais. O requintado lobby, de pé-direito alto e marcado por duas grandes colunas revestidas de mármore, tinha ao fundo a escada e os elevadores que desembocavam, a cada pavimento, em um amplo saguão frontal à passarela central, que servia como espaço de convívio.



Formavam-se, desta forma, dois tipos de percurso dentro do hotel: um transversal-vertical, amplo, semipúblico, ligando lobby, saguões, passarelas e salas coletivas do último andar; outro longitudinal-horizontal, contido, reservado, através dos corredores de ligação das células habitacionais.

  • As Passarelas de Ligação
O percurso transversal-vertical proporcionava um interessante jogo entre espaços internos, externos, públicos e privados: num extremo estava a travessa, espaço aberto que permitia o encontro entre hóspedes e passantes; no meio do percurso estavam as salas de estar, ora protegidas por paredes, ora na forma de grandes varandas abertas ao exterior, próprias para encontros entre hóspedes; no extremo superior ficavam restaurante e salão de baile, onde aconteciam eventos sociais que reuniam os membros mais seletos da comunidade porto-alegrense.
O percurso longitudinal-horizontal, introvertido, caracterizava o movimento no pavimento-tipo, em fita dupla, com células habitacionais voltadas para a travessa e serviços de apoio, sanitários coletivos e circulação vertical ao longo das divisas, recortadas por quatro estreitos poços. A disposição das células permitia sua iluminação e ventilação direta, o que constituía exceção numa época em que os quartos de hotéis eram climatizados, em grande parte, através de poços internos.


  • O Espaço



A verdadeira chave do projeto era, sem dúvida, a travessa Araújo Ribeiro (hoje travessa dos Cataventos). Ao incorporá-la ao hotel, Theo Wiederspahn criou um espaço ao mesmo tempo aberto e contido, com zonas de expansão e retração, com alternância de alturas e luminosidade; nem tão privado que constituísse uma barreira aos passantes, mas nem tão público que não funcionasse como filtro aos transeuntes da cidade. Sua escala era agradável. As varandas privadas conferiam-lhe um ar familiar, de vizinhança; as passarelas e cúpulas davam-lhe “monumentalidade”

Era o “coração” do hotel, seu centro de convívio e integração.
Os anos 1930 e 1940, no apogeu do Majestic, Porto Alegre dispunha de muitos atrativos, várias companhias de revista por aqui transitavam, seguindo depois para Montevideo e Buenos Aires.
O ambiente sofisticado, com mármores portugueses nas escadarias e nos pisos, os gradis das sacadas, a refinada cozinha e a orquestra tocando todas as noites atraíram hóspedes ilustres, como: - Getúlio Vargas, Osvaldo Aranha, João Neves da Fontoura, Lindolfo Collor e João Goulart, ou artistas como Francisco Alves, na época o maior cantor do Brasil, e a vedete Virgínia Lane, a preferida do Presidente Getúlio Vargas.

  • O Declínio
No final dos anos 1940, marcaram o início do declínio do Majestic Hotel, que tem sua fisionomia gradativamente alterada.
O caso de uma Época
Nos anos 1950, iniciou-se o processo de desgaste do hotel. A nova administração passou a não selecionar os hóspedes e logo as pessoas de alto poder aquisitivo ou prestígio foram substituídas por caixeiros-viajantes.
O período denominado de "desenvolvimentista" não foi bom para o Majestic, que, vítima da desfiguração que atingiu o centro da maioria das cidades, ainda sofria a concorrência de novos hotéis, com instalações mais modernas e amplas.
Além de tudo, a antiga localização, antes privilegiada, agora era problemática. As elites saíram do centro e foram instalar-se em bairros diferenciados. O centro tornou-se local de serviços diurnos, com um comércio agitado que fechava suas portas à noite, quando a Rua dos Andradas se transformava em local perigoso. As pessoas não viajavam mais nos vapores, o muro da Mauá impedia o acesso livre ao porto e a construção da nova rodoviária proporcionara o surgimento de vários hotéis a sua volta.

Na década de 1960, após sucessivas mudanças administrativas, passou a não selecionar os hóspedes e logo as pessoas de alto poder aquisitivo ou prestígio foram substituídas por lutadores de "cath" e luta livre que substituíram antigos hóspedes, além de solteiros, viúvos, boêmios e poetas solitários como Mario Quintana, que ali hospedou-se de 1968 a 1980, o tradicional estabelecimento passa a funcionar como uma espécie de pensão mensalista, lar de antigos clientes, pequenos funcionários, aposentados, idosos.
Ao final, dos 300 quartos, passou a ter funcionando pouco menos de 100.
Na década de 1970, o edifício foi posto à venda, em dez anos, apenas dois interessados surgiram, os quais desanimaram frente às reais condições do prédio.

  • Da pressão popular surge uma Casa de Cultura.
No final dos anos 1970, surgiu toda uma discussão entre a população sobre nosso patrimônio cultural. Uma das consequências foi a realização de um levantamento dos prédios antigos, com o fim de resgatar e preservar sua arquitetura.
A humanização da área central da cidade também entrou na discussão e vários prédios foram tombados pelos órgãos do patrimônio histórico.
Em 1980, foi anunciado e realizado um leilão com os móveis e utensílios do Hotel Majestic, que hoje encontram-se dispersos e em mãos de particulares.
Em julho de 1980, o prédio foi adquirido pelo Banrisul – Banco do Estado do Rio Grande do Sul, no governo Amaral de Souza. O negócio foi feito para que o governo do Estado pudesse comprá-lo, já que não tinha verba suficiente para o valor real.
Em 29 de dezembro de 1982, o governo do Estado adquiriu o Majestic Hotel do Banrisul.
Em 1983, o Hotel Majestic é tombado pelo Patrimônio Histórico.
A partir de 1983, os prefeitos, propuseram projetos para remodelar a área central e o Majestic foi lembrado nessa movimentação da população pela valorização de sua história. Mas antes disso muito se perdeu.
Em 1983, em seguida, o Majestic foi arrolado como prédio de valor histórico e iniciada sua transformação em Casa de Cultura.
No mesmo ano, através da lei 7803 de 08 de julho, recebeu a denominação de Mário Quintana, passando a fazer parte da Subsecretaria de Cultura do Estado.


Fonte: http://lealevalerosa.blogspot.com/2015/11/hoteis-porto-alegre-antigo-surgimento.html




– MUNDOS
Um elevador lento e de ferragens Belle Époque
me leva ao antepenúltimo andar do Céu,
cheio de espelhos baços e de poltronas como o hall
de qualquer um antigo Grande Hotel,
mas deserto, deliciosamente deserto
de jornais falados e outros fantasmas da TV,
pois só se vê, ali, o que ali se vê
e só se escuta mesmo o que está bem perto:
é um mundo nosso, de tocar com os dedos,
não este — onde a gente nunca está, ao certo,
no lugar em que está o próprio corpo
mas noutra parte, sempre do lado de lá!
não, não este mundo — onde um perfil é paralelo ao outro
e onde nenhum olhar jamais se encontrará…

Mario Quintana, Apontamentos de história sobrenatural

A Livraria do Globo da Rua da Praia

  A escultura de ferro no topo do prédio da Rua dos Andradas (Rua da Praia), talvez continue despercebida devido à pressa dos dias de hoje. ...