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23 de set. de 2020

Pronunciamento do Deputado Estadual Ruy Carlos Ostermann, autor do projeto de lei nº23/83, que deu nome à Casa de Cultura Mario Quintana ao ex-Majestic Hotel.

 Dia 28 de junho de 1983 na Assembleia Legislativa.


"Sr. Presidente, Srs. Deputados:


Nesta casa se presta, neste momento, a homenagem talvez estranha mas indispensável à poesia.

Em tempo de extrema dificuldade para a articulação até mesmo das frases, em tempo de extrema penúria para o conteúdo das frases, em tempo de silêncios, em tempo em que a palavra não se ouve e ela se cala, me parece que lembrar que um prédio, da mais bonita e saudosa arquitetura de Porto Alegre, o ex-majestic Hotel, seja agora transformado em Casa de Cultura e que por iniciativa de um Projeto de Lei desta Casa possa esta Casa de Cultura denominar-se 'Mario Quintana', eu penso que se está, sob muitas formas, agradecendo, retribuindo, devolvendo de algum modo a alegria, a justeza da frase, a capacidade de embevecimento e, sem dúvida, os valores morais, estéticos e de humanidade de um Poeta.

Esta Casa tem se caracterizado pela defesa intransigente de fatos imediatos, dolorosos, cruéis e contundentes. Poucas vezes ela pôde, no entanto, demorar-se numa atitude, talvez, até surpreendente, para abrigar, na generosidade, a um Poeta e designar-lhe então um lugar na cidade, na cidade que ele sempre amou, que ele soube amar nos seus desvios, nas suas esquinas, que ele soube, sobretudo, amar na sua paisagem humana.

Este homem que solidariamente, durante algum tempo, justificou quase que a preservação do ex-Majestic Hotel, esse homem que transitava solitário por aqueles arredores e que lá, certamente escreveu algumas das páginas, alguns dos versos que hão de ficar na memória, na sensibilidade brasileira, está a merecer hoje, nesta Casa - e estou fazendo o encaminhamento da votação - um gesto que eu entendo que é de todos nós, pela forma unânime com que foi acolhido pelos pareceres favoráveis que recebeu, nós estamos finalmente dando de volta, não com a generosidade e nem com a grandeza do Poeta, mas com, enfim, a nossa possibilidade politica, estamos dando de volta alguma coisa desta ampla, indiscutível, admirável, contínua doação ás pessoas, que é a poesia de Mario Quintana.

Penso que assim se faz uma pequena justificativa e com isso se justifica o Projeto, que ora encaminhamos".

A cerimônia de votação, apresentação, pareceres, discursos e leituras foi assistida por grande número de pessoas e, principalmente, por Mario Quintana. Após a aprovação, ovacionada por todos, o Poeta subiu à tribuna para um breve e emocionado pronunciamento que a todos comoveu:

“Aqui estão todas as correntes reunidas em torno da poesia, e é em nome da poesia que agradeço aos senhores”.

 

·        KOSLOWSKY SILVA, Liana. Majestic Hotel – Memórias de um Monumento, v46, p114-115 - 1992


11 de set. de 2014

Cartas a personagens literários

Gosta de cartas e literatura?
Então você não pode perder a ação que preparamos na biblioteca durante os meses de setembro e outubro!
A seguir você poderá conferir todas as informações para participar.





A ação foi inspirada no blog Letters with character, que reúne cartas de pessoas reais escritas para personagens literários.
Apresentamos traduções de algumas cartas publicadas no blog. Inspire-se para nos escrever a sua! 


Jorge Luis Borges | "A biblioteca de Babel" | 1941


Querido narrador,


Eu encontrei o livro que você estava procurando. 

Você pode retirá-lo no balcão de informações quando estiver saindo.

Agradeço sua paciência.


Sinceramente,
Charles London

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Marcel Proust | Em busca do tempo perdido | 1913-1927

Querido narrador,


Eu confesso estar constrangida por lhe escrever em inglês. Esta não é o seu, tampouco o meu idioma nativo. E é também um idioma que não domino perfeitamente. No entanto, o que tenho a dizer é bem fácil. Eu te amo. Je t'aime. Ti amo.



Suponho que eu não seja o seu tipo. Não sou nenhum Gilberte ou uma Albertine. Mas eu não ligo, narrador. Meu amor por você é o mais puro. É o amor perfeito que não pode ser experienciado em nenhum lugar, a não ser em nossas mentes. É o amor por um homem cuja sensibilidade eu considero tão similar à minha que quando leio suas palavras posso me imaginar as escrevendo. O amor por uma imagem no espelho. O amor que nos faz sofrer todo o tempo em que sentimos saudade de um amante e a promessa de uma impossível, perfeita união. Sinto sua falta em todo os amantes que perdi, meu querido narrador.


Para sempre sua,
Elisa Caldarola
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Jack Kerouac | Na estrada | 1957


Caro Sal,

Arranje um emprego.



Sinceramente,

Glen Binger

P.S. Diga a Dean para me devolver meus trinta dólares, aquele filho da mãe mentiroso.

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Albert Camus | O estrangeiro | 1942


Meursault,


Estive me esforçando para compreender seu personagem e sua crença no absurdo desde que terminei de ler sobre você. Só posso dizer que isso tem sido em vão. Talvez eu seja muito sensível, muito emotivo para aceitar que a vida não tem sentido. Estou mais disposta a acreditar que existe um sentido para tudo o que acontece aqui do que  a acreditar que não há. Isso provavelmente não faz nenhum sentido para você mas, novamente, você não faz nenhum sentido para mim. Vou deixá-lo agora.



Saudações,

Anjanie Pandey

A Livraria do Globo da Rua da Praia

  A escultura de ferro no topo do prédio da Rua dos Andradas (Rua da Praia), talvez continue despercebida devido à pressa dos dias de hoje. ...