11 de ago. de 2023

A Livraria do Globo da Rua da Praia

 


A escultura de ferro no topo do prédio da Rua dos Andradas (Rua da Praia), talvez continue despercebida devido à pressa dos dias de hoje. Nela há uma mulher, um menino com o globo terrestre e uma frase em latim: urbi et orbi (à cidade e ao mundo), inspiração de Laudelino Pinheiro de Barcellos, primeiro proprietário de uma modesta papelaria que mais adiante, associou-se José Bertaso. 

A Livraria do Globo, fundada em 1883, foi o ponto de partida de uma série de empreendimentos literários que conduziram a vida intelectual do pais e referência nacional do setor tipográfico e editorial.

Edificado no estilo neo-renascentista, a sede da Livraria do Globo, foi projetada pelo arquiteto e imigrante italiano Armando Boni, e concluída em 1928, autor de outras obras conhecidas na cidade, como a Concha Acústica do Auditório Araújo Vianna na Praça da Matriz (demolido), Cemitério São Miguel e Almas, Restaurante do Balneário de Belém Novo, Casa Guido Corbetta e Casa Boni (tombada pelo Município).

Com o desenvolvimento da gráfica, aliada ao comando empresarial de Henrique, um dos filhos de José Bertaso, em 1928 foi criada a Revista do Globo, que surgiu a pedido do então presidente do Estado, Getulio Vargas, em seguida, a Editora Globo, que inovou a indústria livreira do Brasil nos anos 1930 e 1940 e, após a Revolução de 30, a Casa Bancária Globo, que obteve prestígio no mercado financeiro estadual.

Por volta de 1932, com a criação de Editora Globo, Erico Verissimo foi contratado como secretário da Revista do Globo por Mansueto Bernardi, diretor da revista. No mesmo ano, publicou sua primeira obra, o livro de contos Fantoches. Durante quase duas décadas, transformou-se na, talvez, mais importante empresa do ramo no país. Depois de lançar inúmeros autores gaúchos, como o próprio Erico, Mario Quintana, Dyonelio Machado, Reynaldo Moura, e gente da turma dos encontros dos sábados, abraçou a gigantesca tarefa de trazer ao público brasileiro obras dos mais importantes autores estrangeiros, clássicos e contemporâneos, qualificando e promovendo o acervo literário gaúcho e consolidando ainda mais a boa imagem da empresa, nacional e internacionalmente.

Livraria do Globo - Livros e Autores

Faltaria espaço aqui para a extensa galeria de nomes. Apenas alguns, como amostra: Proust, Stendhal, Poe, Maupassant, Shakespeare, Nietzsche, Montaigne, Tolstoi, Ibsen, Dickens, Balzac, Gide, Huxley, Conrad, Rilke, Dumas, Flaubert e dezenas de outros. A Globo reuniu uma respeitável equipe de tradutores, como Quintana, Drummond, Cecília Meirelles, Lúcia Miguel Pereira, Herbert Caro, Paulo Rónai, além do pessoal da Casa, como Erico e os irmãos Leonel e Lino Vallandro.

Henrique Bertaso e Erico Verissimo 

Depois da administração de seu pai, Henrique Bertaso, José Otávio assumiu a Globo em meio a um momento de crise nos anos 1950, que culminaria com a venda da Globo dos Bertaso para a Globo dos Marinho, em 1986.

Mas o prédio da Livraria do Globo vai continuar, como lembrança do que já representou e como um dos pontos de referência mais indicados do centro de Porto Alegre.

Veja também:

Entrevista de Justino Martins com Erico Verissimo para Revista do Globo


fontes:

https://www.ufrgs.br/cultura/a-globo-da-rua-da-praia-a-livraria-que-norteou-o-universo-editorial-do-pais/

https://autoreselivros.wordpress.com/2010/10/20/livraria-globo/

https://revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/fale/article/download/15766/10383

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Livraria do Globo da Rua da Praia

  A escultura de ferro no topo do prédio da Rua dos Andradas (Rua da Praia), talvez continue despercebida devido à pressa dos dias de hoje. ...