Na década de 1960, temos o chamado boom da literatura latino-americana. Em geral, observam-se nos escritores desta época algumas reformas técnicas provenientes do surrealismo e da literatura dos Estados Unidos do século XX, produzindo o que se convencionou chamar de realismo mágico e literatura fantástica. Os livros mais destacados deste período são:
Julio Cortázar, Carlos Fuentes, Mario Vargas Llosa, Gabriel García Márquez |
O jogo da amarelinha de Julio Cortázar;
A obra mais emblemática de Julio Cortázar Lançado em junho de 1963 na Argentina, O jogo da amarelinha foi uma verdadeira revolução no romance em língua espanhola: pela primeira vez um escritor levava às últimas consequências a ideia de transgredir a ordem tradicional de uma história e a linguagem para contá-la. Cortázar retrata um clima de rupturas e incertezas, em um anti-romance em que elementos da nova cultura de massas – colagem, história em quadrinhos, novela de rádio, arte pop, música popular, gíria urbana – e técnicas literárias experimentais de vanguarda – intercalação de relatos, experimentações sonoras e sintáticas, alteração da ordem, finais falsos, quebras, deslocamentos na narração – convivem em perfeita harmonia. O resultado é este livro único, aberto a múltiplas leituras, repleto de humor, de riscos e de uma originalidade sem precedentes
A morte de Artemio Cruz de Carlos Fuentes;
Lançado em 1962, Artemio Cruz, o protagonista de 'A morte de Artemio Cruz', participou das campanhas da Revolução Mexicana. Depois, traiu seus ideais, acumulou riquezas e poder, e hoje confinado a uma cama de hospital, recorda os episódios essenciais de sua vida no passado.
Batismo de Fogo de Mario Vargas Llosa;
La ciudad y los perros (A cidade e os cães em Portugal, no
Brasil Batismo de Fogo) é o primeiro romance do escritor peruano Mario Vargas
Llosa, Prêmio Nobel de Literatura 2010.
A obra, lançada em 1963, narra o cotidiano dos alunos do
Colégio Militar Leoncio Prado de Lima. O livro teve múltiplas edições em
dezenas de idiomas e recebeu o Prêmio da Crítica na Espanha. Foi também
incluído na lista dos 100 melhores romances do século XX, em castelhano, pelo
periódico El Mundo. Foi adaptado em 1985 para o cinema pelo realizador peruano
Francisco J. Lombardi.
Cem anos de solidão de Gabriel García Márquez;
Cem Anos de Solidão é uma obra do escritor colombiano Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel da Literatura em 1982, e é atualmente considerada uma das obras mais importantes da literatura latino-americana. Essa obra de 1967, tem a peculiaridade de ser umas das mais lidas e traduzidas de todo o mundo. Durante o IV Congresso Internacional da Língua Espanhola, realizado em Cartagena, na Colômbia, em março de 2007, Cem Anos de Solidão foi considerada a segunda obra mais importante de toda a literatura hispânica, ficando apenas atrás de Dom Quixote de la Mancha. Utilizando o estilo conhecido como realismo mágico e do romance histórico, Cem Anos de Solidão cativou milhões de leitores e ainda atrai milhares de fãs à literatura constante de Gabriel García Márquez
Há, também, escritores que pertencem a este núcleo, embora
tenham sido publicados na década de 1950, ou durante a primeira metade de 1970,
como:
José Lezama Lima com Paradiso(1966);
Um clássico da literatura moderna, Paradiso foi escrito pelo
poeta mais importante de Cuba, conta a história de José Cemi, que, após a morte
de seu pai, atinge a maioridade na virada do século. De leitura densa,
experimental e poética, Paradiso mistura diversas referências de todas as
épocas, cores, sabores e lugares para apresentar ao leitor o rico universo de
um homem só, que também pode ser de todos os homens.
Guillermo Cabrera Infante com Três tristes tigres(1965);
“É um livro hedonista, em que o enredo gira com muito humor,
em torno das experiências de um grupo de jovens cubanos em sua passagem por
Havana à noite”.
José Donoso com O obsceno pássaro da noite(1970);
Com uma estrutura ousada e uma atmosfera permanentemente
ambígua, marcada pelo insólito e pelo grotesco, o romance tem como cenário
principal uma antiga casa de exercícios espirituais prestes a ser desativada.
Nessa construção arruinada, um faz-tudo conhecido como
Mudinho passa os dias vedando portas, disfarçando remendos e atendendo aos mais
variados desígnios das velhas, órfãs e freiras que dormem em quartos atulhados
de restos, mergulhadas na decrepitude e na pobreza. Entre galerias escuras e
corredores sinuosos, Mudinho urde um relato vertiginoso, em que a realidade
imediata que o circunda logo cede espaço às alucinadas lembranças de seu
passado, nas quais aparece como secretário particular de um aristocrata que
procura proteger o filho disforme criando um mundo paralelo habitado apenas por
monstros.
Augusto Roa Bastos com Eu, o supremo(1974);
O livro traz referências históricas e culturais sobre o
ditador paraguaio José Gaspar Rodrígues de Francia, na primeira metade do
século XIX.
A jornada deste Supremo é um xadrez de deveres, formalidades
e estratégias, inserido no contexto sociopolítico da região platina e todo o
prelúdio que, tempos depois, iria conflagrar a Guerra da Tríplice Aliança.
Este escritor paraguaio possui um estilo rebuscado e
expansivo, usando uma profusão de referências históricas, geográficas e
culturais, muitas vezes com expressões em latim, guarani, inglês e francês.
Assim, infere-se a distinta bagagem intelectual de Roa Bastos, um dos
integrantes do Boom Latino-americano e autor contemplado, em 1989, pelo Prêmio
Miguel de Cervantes, o maior da literatura em espanhol.
entre tantos outros.
No Brasil, destacam-se, na poesia,
João Cabral de Melo Neto com A educação pela pedra(1966);
João Cabral de Melo Neto atinge sua maturidade criadora em A educação pela pedra, que se consagra como obra decisiva na trajetória do poeta pernambucano e visto no domínio total de sua linguagem. Em A educação pela pedra, vencedor de diversos prêmios, entre eles o Jabuti, o da União de Escritores de São Paulo e o do Instituto Nacional do Livro. Juntos, os quatro livros representam o momento mais importante da poesia cabralina. Neles, o autor alcança um nível de precisão e maestria poucas vezes visto na literatura, construindo sua poesia de maneira admirável. São planos estruturais montados especificamente para cada livro, nunca repetidos, em que os poemas se encaixam a formatos previamente estabelecidos, se articulam em grupos e em pares, criando um plano arquitetônico elaborado e, ao mesmo tempo, capaz de emocionar com construções de grande força e beleza.
João Guimarães Rosa com Grande Sertão: Veredas(1956);
A obra, uma das mais importantes da literatura brasileira, é
elogiada pela linguagem e pela originalidade de estilo presentes no relato de
Riobaldo, ex-jagunço que relembra suas lutas, seus medos e o amor reprimido por
Diadorim.
O romance “Grande Sertão: Veredas” é considerado uma das
mais significativas obras da literatura brasileira. Inicialmente chama atenção
por sua dimensão – mais de 600 páginas – e pela ausência de capítulos.
Guimarães Rosa fundiu nesse romance elementos do experimentalismo linguístico
da primeira fase do modernismo e a temática regionalista da segunda fase do
movimento, para criar uma obra única e inovadora.
Clarice Lispector com A paixão segundo G.H.(1964);
O enredo trata de uma mulher identificada apenas pelas
iniciais G.H., que depois de demitir a empregada e tentar limpar seu quarto,
relata a perda da individualidade após ter esmagado uma barata na porta de um
guarda-roupa.
No dia seguinte ela narra a própria impotência de escrever o episódio. A história se organiza em capítulos de sequência sistemática - cada um começa com a mesma frase que serve de fechamento ao anterior. A interrupção, assim, é elemento de continuidade, numa representação simbólica do que é a experiência de G.H.