8 de jul. de 2022

Depoimento de Elena Quintana

    Uma das primeiras coisas que achei importante na minha vida era que meu nome não tinha H e eu tinha um tio que era poeta e escrevia no Correio do Povo uma coluna chamada Caderno H. Eu dizia para todo mundo que era sobrinha do Mario Quintana. A poesia dele que mais gostava era Canção da Garoa: "Em cima do meu telhado, / Pirulim, lulim, lulim, / Um anjo, todo molhado, / Soluça no seu flautim".

    Todos os domingos, a casa de meus avós ficava cheia de primos, primas, tios e amigos da família. Tio Mario visitava meu avô, seu irmão mais velho. Nessas ocasiões, eles conversavam, mexiam em livros e tratavam de coisas que não sabíamos ou não compreendíamos, porque as crianças andavam por tudo, menos no escritório que era o lugar deles.

    Meu avô fazia um álbum sobre o tio Mario, juntando todo o material que se publicava sobre ele, e também cadernos para nós, os netos, brincarmos. Eram álbuns de figuras e quadrinhos feitos em papel embrulho. Foi com meu avô que aprendi a rimar. Uma vez ele me deu um livro bem grosso de poesia infantil, e eu li todo. Meu avô era ótimo, e o tio Mario concorda comigo.

    Aos nove anos, escrevi minha primeira poesia, e tio Mario publicou no Correio Infantil do Correio do Povo. Daí eu não queria mais ser professora, nem veterinária, eu queria ser poeta e jornalista.

    Depois o meu avô morreu, o tio Mario já não aparecia mais com tanta frequência e nem eu. Quando ele dava autógrafos em algum lançamento, eu ia, sempre com medo de não ser reconhecida, mas ele me olhava e dizia - "Ora viva!".

    Nessa época, eu não me encontrava muito com ele, mas foi quando realmente li a sua obra. Quando mais eu lia, mais gostava. Eu havia pegado o clic de Mario Quintana.

    A obra dele me assustou, e eu desisti de ser poeta. Era muita responsabilidade ser sobrinha do poeta e poeta. Quando vi, anos mais tarde, havia virado secretária de Mario Quintana, poeta do Rio Grande do Sul e do Brasil, que todos querem homenagear, com quem todos querem falar e que nem sempre está afim de ser público. Então, depois de conhecer o tio Mario, a obra do Mario Quintana, eu continuava preferindo o tio poeta.

Elena Quintana, sobrinha do poeta. Porto Alegre, setembro de 1984.

Elena Quintana, sobrinha e herdeira de Mario Quintana


Fonte:

1. Quintana, Mario - Biografia - Literatura sul-rio-grandense. 2. Literatura sul-rio-grandense - Quintana, Mario - Obra completa - estudo crítico. 3. Bibliografia - Quintana, Mario I. Título II. Série.

18 de abr. de 2022

Video - Escritores Gaúchos sobre Erico Verissimo

Lya Luft

Cyro Martins

Luis Antônio de Assis Brasil

 

4 de fev. de 2022

Erico Verissimo é entrevistado por Clarice Lispector

Mafalda Verissimo, Paulo Gurgel Valente,
Erico Verissimo, Clarice Lispector
e Pedro Gurgel Valente, 1955
- foto: arquivo Clarice Lispector/acervo IMS













 

Fonte: 
- LISPECTOR, Clarice. Clarice Lispector entrevistas. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

vídeo - Erico Verissimo e sua esposa Mafalda visitam o amigo Mario Quintana no Hotel Majestic

Uma produção de 1974 por Fernando Sabino e David Neves





 O escritor Erico Verissimo e sua esposa, Mafalda, passaram a lua-de-mel no Majestic Hotel, vindos de Cruz Alta, em 1931.

10 de jan. de 2022

vídeo - Artista Plástico Freddy Sorribas faz homenagem a Erico Verissimo em 1993

Vídeo de Freddy Sorribas na Biblioteca Erico Verissimo CCMQ

 


Anualmente a Biblioteca Erico Verissimo mantinha atividades voltadas para a divulgação das obras de seu patrono. Naquele ano de 1993, foram organizadas programações durante a semana como forma de dar destaque a sua obra literária. Uma delas foi à execução de uma obra pictórica relativa à literatura de Erico Verissimo. Essa obra foi executada nos dias 17 e 18 de dezembro, no espaço interno da Biblioteca, onde ficou exposta até o ano de 2020.





Freddy Enrique Sorribas Crespi (1948 -2017) foi um artista Uruguaio.
Começou a estudar pintura em 1957 e teve a oportunidade de ter aulas com Américo Sposito e Carlos Llanos e a partir desse momento continuou a desenvolver-se como artista, onde utilizou cores fortes e poderosas, bem como o intenso sentimento pessoal sobre elas.
Reconhecido por seus trabalhos, é considerado um artista que desenvolveu suas técnicas de precisão e vigor, além de sua expressão de liberdade. Sua carreira foi premiada em diversos locais como Porto Alegre, Nova York, Buenos Aires e também em Acapulco.




5 de nov. de 2021

Casa de Cultura Mario Quintana - março de 1991- Projeto Original



APRESENTAÇÃO

A Casa de Cultura Mario Quintana foi pensada e planejada para a realidade cultural do Rio Grande do Sul. Deve, portanto, ter a clara consciência de estar situada num país de terceiro mundo, com suas limitações e carências, e saber tirar proveito deste fato: se faltam meios, há tempo e espaços disponíveis e cabe a nós preencher este tempo e ocupar os espaços.

Deve repensar sua latinidade sem traumas, de forma positiva.

Deve buscar o contemporâneo, sem esquecer as raízes e as etnias que contribuíram para a sua formação.

Deve ser ágil, dinâmica, criativa, inquisidora, crítica, buscando o acerto mesmo através do erro; adolescente e não senhoril. E deve, principalmente, ousar, e ousar muito, pois somente aos que têm ousadia é dado acordar no futuro.

Sergio Napp Diretor da CCMQ

HISTÓRICO

Início do século XX. A modernidade estava presente em todas as correntes do pensamento humano. A era moderna, iniciada no final do século passado, trazia a ciência e a tecnologia a serviço do homem. Os automóveis, os aviões, o telefone e os grandes movimentos culturais transformavam o perfil das capitais.

Em meio a esta agitação cultural, nascia na Porto Alegre província um projeto audacioso. O arquiteto alemão Theo Wiederspahn, contratado por Horácio de Carvalho, surpreendia a todos ao projetar em estilo neoclássico, dois prédios interligados por passarelas, que cruzavam por cima de uma via pública e tinha em seu topo duas cúpulas. Em 1923, os irmãos Masgrau, arrendatários do prédio, inaugurariam ali o Hotel Majestic.

As características diferenciadas do prédio e o atendimento dos arrendatários dariam popularidade ao local. No hotel desfilavam artistas, intelectuais e personalidades, como os ex-presidentes Getúlio Vargas, João Goulart, o escritor Erico Veríssimo e os cantores João Gilberto, Dalva de Oliveira, entre muitos outros.

O tempo foi passando, a cidade romântica do início do século foi crescendo, dando lugar aos grandes e frios espigões, a violência e a poluição. Surgia a decadência e a desumanização de que padecem as áreas centrais de todas as grandes cidades.

O grande Hotel Majestic não escapou a esta realidade. Entrava na década de setenta longe de seu esplendor, deixando de ser um hotel tradicional, para abrigar, basicamente, moradores permanentes.

Um de seus mais ilustres moradores foi Mario Quintana. O poeta ali viveu de 1968 até 1980, quando o prédio foi fechado definitivamente como hotel.

Sem brilho, desgastada e consumidas pelo tempo, a bela edificação estava ruindo. Eram os vazamentos e pinturas descascando e rebocos caindo. Mesmo assim, a obra projetada no início do século, ainda chamava atenção pela importância arquitetônica e histórica. Precisava ser preservada e recuperada.

Em 1980, o Governo do Estado, através do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, adquire o prédio. Evita-se assim, uma provável demolição para dar lugar a outro espigão.  Já se pensava nesta época em instalar um centro de cultura no prédio do antigo Majestic. Começaria uma nova etapa para o surpreendente edifício que havia funcionado como hotel por 57 anos. Permanecendo desativado por mais de dois anos, em março de 1983 um espaço de exposições é inaugurado no térreo, sendo o prédio reaberto na tentativa de instalar o centro de cultura. No mês de julho do mesmo ano, um projeto aprovado na Assembleia Legislativa denomina o novo espaço cultural de Casa de Cultura Mario Quintana, homenageando o grande poeta e antigo morador do então Hotel Majestic. Dois anos mais tarde, o prédio seria tombado pelo patrimônio Histórico e Artístico do Estado.

A partir de sua abertura como Casa de Cultura, e por seis anos o prédio funcionaria precariamente. A primeira administração esteve a cargo da professora bibliotecária Ivette Zietlon Duro, substituída em 1984, pela artista plástica Iara Gay Castro e posteriormente, em 1986 pela especialista em educação, Maria Gercira de Moura Diniz. Devido à falta de condições do edifício era possível utilizar tão somente o térreo e o primeiro andar.

O Hotel Majestic para abrigar a sonhada Casa de Cultura pedia restaurações urgentes. Constatada, a total impossibilidade para desenvolver qualquer trabalho naquelas condições, iniciou uma verdadeira luta na busca de recursos no sentido de recuperação e reciclagem da edificação. Conforme algumas ideias, das administrações estaduais anteriores, a obra poderia levar até trinta anos para ser concluída. Porém, durante a administração Simon-Guazzelli, em 1987, sob a direção do engenheiro e artista Sérgio Napp, um projeto do que deveria ser uma Casa de Cultura começou a ser estudado junto com a sua recuperação. O prédio viabilizava a ocupação de seus espaços internos para as mais variadas atividades. Em julho, deste mesmo ano, o estudo preliminar foi apresentado ao público e as instituições culturais para ampliar as discussões sobre o futuro da obra. Em março de 1989, o anteprojeto de autoria dos arquitetos Joel Gorski e Flávio Kiefer, foi concluído. O projeto dotaria o prédio de uma total integração em todas as áreas internas, onde se desenvolveriam as atividades culturais. Num trabalho inovador, em termos culturais e arquitetônicos a futura Casa de Cultura Mario Quintana permitiria um contato visual de todos os trabalhos presentes em seu interior. O novo lado a lado, com o antigo.

PROJETO

O projeto previu ainda a necessária infraestrutura moderna para o seu perfeito funcionamento. Iluminação, prevenção contra incêndios, ar condicionado, computador, antena parabólica e outros itens que fariam da Casa de Cultura Mário Quintana das mais completas da América Latina. Em julho de 1989, foi assinado o contrato entre o Estado e a empresa que viria realizar a obra. A Casa foi fechada para dar lugar ao canteiro de obras.



A postagem apresentou a introdução do folheto original.

O folheto completo está disponível para consulta local na Biblioteca Erico Verissimo.


24 de out. de 2021

Trechos do livro MARIO QUINTANA da coleção: MESTRES DA LITERATURA

 “Para fazer o livro, reli várias vezes todos os livros do Mario e entrevistei pessoas que conviveram de perto com ele. Esses depoimentos, todos exclusivos, estão no livro. Então, por exemplo, tem lá a Lya Luft e o Luis Fernando Verissimo ...” (Márcio Vassallo, Autor)

MARIO QUINTANA - 1ªED.(2005) da coleção: MESTRES DA LITERATURA


SINOPSE

Muito se diz e se começa a escrever sobre Mario Quintana. Mais ainda há de se dizer e escrever na medida em que o poeta-bruxo for sendo descoberto, não no que, a gente sabe, tinha de delicado, engraçado, singular, excêntrico, poético. Mas no que havia nele (há, pois artistas não morrem, permanecem na sua obra) de profundo, dramático, secreto. O livro de Vassallo ajudará nisso, pois sua aparente singeleza oculta a visão de quem espia pela fresta o poeta quando está sozinho, solto, exposto.


"O Mario, além de um grande poeta, era um grande humorista. Ele frequentava bastante a nossa casa e era uma presença quieta e discreta. Minha mãe fazia muito meias de la para ele. Tantas que um dia ele observou: 'Acho que a Mafalda pensa que eu sou uma centopeia'. Uma vez fui levá-lo na casa do Josué Guimarães, e ele teve alguma dificuldade em sair do banco de trás. Disse: 'Como a gente tem perna, né?' Era um obcecado por jogo, e na vez em que foi atropelado pediu urgentemente, ainda do chão, que anotassem o número da placa do carro. Era para jogar na loteria. Nos encontramos no Rio, no Hotel Canadá, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. E ele nos contou que o que mais gostava no Rio eram os túneis, porque dentro dos túneis descansava da paisagem." (Luis Fernando Verissimo, escritor)

"Sinceramente, era quase impossível ter uma conversa linear com o Mario. Ele vivia em outro mundo, um mundo de espirais intelectuais. A sua presença neste mundo era ocasional. Parecia que se desligava das miudezas e fofocas deste planeta. Quando estava de boa lua, dizia umas frases geniais ou simplesmente de efeito. É claro que nós, seus amigos, não apreciávamos tais exílios poéticos que, com certa frequência, não passavam de estratagemas contra os importunos, os penetras. O próprio Mario teria dito a Manuel Bandeira, quando este manifestou interesse em conhece lo pessoalmente: Tu não sabes, Manuel, como eu sou desinteressante quando não estou em estado de poesia... Certo dia, ao ouvir a sua sobrinha Elena dizer-lhe que uma pessoa lhe estava telefonando, o Mario disse: 'Ah, certos amigos são uns chatos.... Então, temendo que eu me sentisse atingido, uma de suas assistentes observou-lhe; “Mario, o Trevisan pode se ofender com essa tua observação”. Após um breve silêncio, o poeta acrescentou; “ Depois, tem uma coisa. Os nossos amigos são os nossos chatos prediletos”. “Que lição de vida para nossa presunção”. (Armindo Trevisan, escritor) 

“Conheci Mario na redação do Correio do Povo, em Porto alegre, que por muitos anos foi o jornal mais importante, de São Paulo para baixo. Na época eu estava casada com Celso Pedro Luft , o famoso linguista e gramático. Eu, com vinte e poucos anos, aparecia na redação, tímida para mais de metro.  Às vezes, o Mario estava lá, fumando e batendo numa máquina de escrever velhíssima.  Aí ficava falando comigo, eu acho que meio enternecido. Assim, um dia, eu perguntei a ele: ‘Mario, o que é que você esconde naquela cômoda do seu quarto, de que tanto as pessoas falam?’ Ele arregalou os olhos feito uma velho ogro e disse,  se divertindo comigo; ‘Lá estão os cadáveres das minhas amadas mortais, que eu estrangulei  nas próprias tranças’. O Mario sempre foi muito gentil comigo. Eventualmente ele telefonava aqui pra casa, pra comentar alguma palavra com Celso. Era naturalmente curioso e apaixonado por palavras. Muita gente o achava difícil, maniático, sarcástico. Comigo foi sempre doce e gentil. A poesia do Mario é por vezes sublime, por vezes angelical, por vezes muito dolorida. Tenho pelo poeta uma imensa admiração. Quem quiser conhecer a melhor poesia brasileira não pode ignorar o Mario Quintana.” (Lya Luft, escritora)


Disponível na Biblioteca Erico Verissimo


A Livraria do Globo da Rua da Praia

  A escultura de ferro no topo do prédio da Rua dos Andradas (Rua da Praia), talvez continue despercebida devido à pressa dos dias de hoje. ...