APRESENTAÇÃOA Casa de Cultura Mario Quintana foi pensada e planejada
para a realidade cultural do Rio Grande do Sul. Deve, portanto, ter a clara
consciência de estar situada num país de terceiro mundo, com suas limitações e
carências, e saber tirar proveito deste fato: se faltam meios, há tempo e
espaços disponíveis e cabe a nós preencher este tempo e ocupar os espaços.
Deve repensar sua latinidade sem traumas, de forma positiva.
Deve buscar o contemporâneo, sem esquecer as raízes e as
etnias que contribuíram para a sua formação.
Deve ser ágil, dinâmica, criativa, inquisidora, crítica,
buscando o acerto mesmo através do erro; adolescente e não senhoril. E deve,
principalmente, ousar, e ousar muito, pois somente aos que têm ousadia é dado acordar
no futuro.
Sergio Napp Diretor da CCMQ
HISTÓRICO
Início do século XX. A modernidade estava presente em todas
as correntes do pensamento humano. A era moderna, iniciada no final do século
passado, trazia a ciência e a tecnologia a serviço do homem. Os automóveis,
os aviões, o telefone e os grandes movimentos culturais transformavam o perfil das
capitais.
Em meio a esta agitação cultural, nascia na Porto Alegre província
um projeto audacioso. O arquiteto alemão Theo Wiederspahn, contratado por
Horácio de Carvalho, surpreendia a todos ao projetar em estilo neoclássico,
dois prédios interligados por passarelas, que cruzavam por cima de uma via
pública e tinha em seu topo duas cúpulas. Em 1923, os irmãos Masgrau,
arrendatários do prédio, inaugurariam ali o Hotel Majestic.
As características diferenciadas do prédio e o atendimento
dos arrendatários dariam popularidade ao local. No hotel desfilavam artistas,
intelectuais e personalidades, como os ex-presidentes Getúlio Vargas, João
Goulart, o escritor Erico Veríssimo e os cantores João Gilberto, Dalva de
Oliveira, entre muitos outros.
O tempo foi passando, a cidade romântica do início do século
foi crescendo, dando lugar aos grandes e frios espigões, a violência e a
poluição. Surgia a decadência e a desumanização de que padecem as áreas centrais
de todas as grandes cidades.
O grande Hotel Majestic não escapou a esta realidade. Entrava
na década de setenta longe de seu esplendor, deixando de ser um hotel tradicional,
para abrigar, basicamente, moradores permanentes.
Um de seus mais ilustres moradores foi Mario Quintana. O
poeta ali viveu de 1968 até 1980, quando o prédio foi fechado definitivamente
como hotel.
Sem brilho, desgastada e consumidas pelo tempo, a bela edificação
estava ruindo. Eram os vazamentos e pinturas descascando e rebocos caindo.
Mesmo assim, a obra projetada no início do século, ainda chamava atenção pela
importância arquitetônica e histórica. Precisava ser preservada e recuperada.
Em 1980, o Governo do Estado, através do Banco do Estado do
Rio Grande do Sul, adquire o prédio. Evita-se assim, uma provável demolição
para dar lugar a outro espigão. Já se
pensava nesta época em instalar um centro de cultura no prédio do antigo
Majestic. Começaria uma nova etapa para o surpreendente edifício que havia
funcionado como hotel por 57 anos. Permanecendo desativado por mais de dois
anos, em março de 1983 um espaço de exposições é inaugurado no térreo, sendo o
prédio reaberto na tentativa de instalar o centro de cultura. No mês de julho
do mesmo ano, um projeto aprovado na Assembleia Legislativa denomina o novo
espaço cultural de Casa de Cultura Mario Quintana, homenageando o grande poeta
e antigo morador do então Hotel Majestic. Dois anos mais tarde, o prédio seria
tombado pelo patrimônio Histórico e Artístico do Estado.
A partir de sua abertura como Casa de Cultura, e por seis
anos o prédio funcionaria precariamente. A primeira administração esteve a
cargo da professora bibliotecária Ivette Zietlon Duro, substituída em 1984, pela artista
plástica Iara Gay Castro e posteriormente, em 1986 pela especialista em
educação, Maria Gercira de Moura Diniz. Devido à falta de condições do
edifício era possível utilizar tão somente o térreo e o primeiro andar.
O Hotel Majestic para abrigar a sonhada Casa de Cultura
pedia restaurações urgentes. Constatada, a total impossibilidade para
desenvolver qualquer trabalho naquelas condições, iniciou uma verdadeira luta
na busca de recursos no sentido de recuperação e reciclagem da edificação.
Conforme algumas ideias, das administrações estaduais anteriores, a obra
poderia levar até trinta anos para ser concluída. Porém, durante a
administração Simon-Guazzelli, em 1987, sob a direção do engenheiro e artista
Sérgio Napp, um projeto do que deveria ser uma Casa de Cultura começou a ser estudado
junto com a sua recuperação. O prédio viabilizava a ocupação de seus espaços
internos para as mais variadas atividades. Em julho, deste mesmo ano, o estudo
preliminar foi apresentado ao público e as instituições culturais para ampliar
as discussões sobre o futuro da obra. Em março de 1989, o anteprojeto de autoria
dos arquitetos Joel Gorski e Flávio Kiefer, foi concluído. O projeto dotaria o
prédio de uma total integração em todas as áreas internas, onde se
desenvolveriam as atividades culturais. Num trabalho inovador, em termos culturais
e arquitetônicos a futura Casa de Cultura Mario Quintana permitiria um contato
visual de todos os trabalhos presentes em seu interior. O novo lado a lado, com
o antigo.
PROJETO
O projeto previu ainda a necessária infraestrutura moderna
para o seu perfeito funcionamento. Iluminação, prevenção contra incêndios, ar
condicionado, computador, antena parabólica e outros itens que fariam da Casa
de Cultura Mário Quintana das mais completas da América Latina. Em julho de
1989, foi assinado o contrato entre o Estado e a empresa que viria realizar a
obra. A Casa foi fechada para dar lugar ao canteiro de obras.
A postagem apresentou a introdução do folheto original.
O folheto completo está disponível para consulta local na Biblioteca Erico Verissimo.