23 de mar. de 2023

VIVA A VIDA! Um dos últimos textos de Erico

SUPLEMENTO ESPECIAL - ZH - 17/12/75

Um dos últimos textos escritos por Erico Verissimo, há pouco mais de um mês, foi para a apresentação de um álbum de gravuras de artistas gaúchos, que está sendo lançado à venda (apenas 500 exemplares) em benefício do Lar dos Velhos mantido pela Sociedade Israelita Riograndense. Evocando Unamuno, Erico compôs um hino à vida da forma como ele a entendia e que está presente em toda sua obra. O original do texto até aqui inédito, assinado pelo autor, é o que apresentamos no fac-símile ao lado.


Sofremos tempos terríveis. Nos meus momentos de pessimismo, tenho a impressão de que os homens estão aos poucos morrendo afogados em seus próprios detritos, no mais estúpido dos suicídios. De todas as a poluições que hoje nos afligem a do ar, a da terra e a da água nenhuma é mais letal do que a poluição dos espíritos, esse tipo de sujeira que leva as criaturas humanas a se odiarem e agredirem umas as outras.

No entanto nunca como em nossos dias conseguiu o homo sapiens leva-la mais longe os feitos de sua inteligência, de seu engenho e de sua capacidade inventiva. Os geneticistas aproximam-se cada vez mais da descoberta do segredo da vida. Explora-se o espaço sideral. Pés humanos já pisaram o solo da Lua, os cérebros eletrônicos fazem prodígios. A Física e a Bioquímica avançam com passadas de gigante.

Era de esperar-se que com todo esse progresso cientifico e técnico, a esta altura de sua História os homens já tivessem aprendido a viver em paz uns com os outros, sem ódios nem conflitos de natureza econômica, racial, política ou religiosa, num mundo em que houvesse espaço físico e psicológico, alimentos, instrução, habitações, vestuário, assistência médica e hospitalar, paz para todos. Desgraçadamente pouco ou nada disso tem acontecido. A violência e a agressividade são a nota tônica de nossa época. A inflação dos preços dos bens de consumo aumenta de maneira assustadora, ao mesmo passo que, na bolsa de valores éticos, nunca uma vida humana desceu a preço mais vil, genocídio parece ter-se transformado no esporte favorito dos povos chamados fortes. Duas guerras monstruosamente destruidoras mancham vergonhosamente nosso século, milhões de seres humanos através do mundo buscam no uso de drogas alucinógenas ou entorpecentes uma porta de fuga duma vida que temem ou, detestam ou com a qual não se conformam. Para onde vai então à humanidade?

Este introito um tanto apocalíptico tem por fim fazer às vezes dum envelope de chumbo dentro de qual envio aos que me lerem um bilhete de esperança. Estou certo de que mais dia menos dia, os homens hão de encontrar as veredas da paz e do amor. Para esse encontro está destinado as artes em geral um papel de enorme importância.

Permitam-me contar agora uma estória histórica. Em 1936, logo no princípio da sangrenta Guerra Civil espanhola, realizou-se na antiga e famosa Universidade de Salamanca uma sessão cívica comemorativa do Dia da Raça. Estavam presentes, além de professores e alunos, altas autoridades civis, militares e eclesiásticas. O Gen. Millán Astray, membro da Falange franquista, pronunciou então um discurso violento, no qual atacou as províncias vascas e andaluzas, perorando com o brado de "Viva Morte”.

Unamuno, ao deixar a Universidade de Salamanca em 12 de outubro de 1936

Don Miguel de Unamuno, o grande escritor e humanista espanhol, então reitor da Universidade, ergueu-se de sua poltrona e sem perder a serenidade, rosetou as palavras do truculento líder falangista, dizendo, entre outras coisas, que aquele grito de "Viva la Muerte!" era insensato e necrófilo. O Gen. Astray, irado, gritou:" abaixo a inteligência!" Unamuno imperturbável, prosseguiu "Este é o templo do intelecto e ou. o seu Sumo sacerdote. Vocês vencerão porque tem força bruta mais que suficiente. Mas não convencerão porque, para convencer, é preciso persuadir. para persuadir vocês precisarão do que lhes falta. Razão e Direito."

Tive a oportunidade de, trinta anos depois dessa agitada sessão, visitar a Casa de Unamuno, na cidade de Salamanca. Sobre a mesa do gabinete de trabalho do grande escritor, ao lado dum original manuscrito e de seus óculos, vi alguns de seus passarinhos de papel que o mestre costumava fazer como passatempo, e com grande habilidade.

Ado Malagoli, Alice Brueggmann, Alice Soares, Carlos Scliar, Carlos Tenius, Xico Stockinger, Danúbio Gonçalves, Romanita Martins, Vasco Prado e Zorávia Bettiol - admiráveis artistas plásticos - doaram generosamente trabalhos de sua autoria para formar esta coleção, cuja finalidade como se sabe, das mais nobres. Congratula-me com esses legionários da paz e da fraternidade, na certeza de que, como eu, eles acreditam na vitória final dos "pajaritos de papel" de Miguel de Unamuno sobre a espada do Gen. Astray.

 "Viva a vida: "


16 de fev. de 2023

A OBRA COMPLETA DE ERICO

  • Fantoches (1932)
  • Clarissa (1933)
  • Caminhos Cruzados (1935)
  • A Vida de Joana d'Arc (1935)
  • As Aventuras do Avião Vermelho (1936)
  • Os Três Porquinhos Pobres (1936)
  • Rosa Maria no Castelo Encantado (1936)
  • Meu ABC (1936)
  • Música ao Longe (1936)
  • Um Lugar ao Sol (1936)
  • As Aventuras de Tibicuera (1937)
  • Um Urso com Música na Barriga (1938)
  • Olhai os Lírios do Campo (1938)
  • A Vida do Elefante Basílio (1939)
  • Outra Vez Três OS Porquinhos (1939)
  • Viagem à Aurora do Mundo (1939)
  • Aventuras do Mundo da Higiene (1939)
  • Saga (1940)
  • Gato Preto em Campo de Neve (1941)
  • O Resto é Silêncio (1942)
  • A Volta do Gato Preto (1946)
  • O Continente (1949)
  • Primeiro volume da trilogia O Tempo e o Vento, o Retrato (1951)
  • Segundo volume da trilogia, Noite (1954)
  • Gentes e Bichos (1956)
  • México (1957)
  • O Ataque (1959)
  • O Arquipélago (1961)
  • Terceiro volume da trilogia, Senhor Embaixador (1965)
  • Prisioneiro (1967)
  • Israel em Abril (1969)
  • Incidente em Antares (1971)
  • Solo de Clarineta (1972)

DO CADERNO H - 13/12/1975

O ERICO

Mario Quintana

Escritas antes, para comemorar os seus setenta anos, as palavras seguintes saem hoje dolorosamente ainda com a presença física de Erico Veríssimo. Foram escritas para ele as ler. Isso explica o tom com que as escrevi. E que conservo, Deus sabe por quê.

E como se nada tivesse acontecido. Porque a morte nunca desatualizou ninguém, e muito menos o nosso querido Erico.

"Quando, com os da minha geração, que era a dele, eu conheci o Erico, ficamos a chamá-lo para sempre e assim mesmo: o Erico. O mesmo aconteceu com as outras gerações. Como ele é, antes de tudo, uma presença humana, essa familiaridade explica-se por si. Ele está conosco é o que pensam. O raio do homem consegue ser contemporâneo de todas as gerações.

Pois não será esse, acaso, o segredo de um verdadeiro romancista?

Por isso é que ele entra agora na casa dos setenta com a mesma afoiteza e curiosidade com que entrou na casa dos vinte, de olhos bem abertos para a vida. A vida continuou. Ele também. Sempre em dia com ela.

Aliás, a vida está sempre em dia. Essa obsessão de contar o tempo, deixemo-la para os relógios, máquinas inumanas. Deixemos, pois, a casa dos setenta uma abstração e entremos na acolhedora casa do Erico. Aceitemos a rodada de cafezinho que Dona Mafalda nos serve. Olhemos em torno. Há sempre lá novas caras. Há sempre alguém falando, um visitante, é claro, e o Erico escutando.

Ele sempre soube escutar.

Não sei o que ele pensava de nós, os da sua geração, quando o conhecemos. Mas nós o achávamos diferente. Desconfio que esse adjetivo não deve agradar lá muito a quem quis sempre comungar. Emendo, em tempo e a bem da verdade: cada um de nós é que queria ser diferente. Ele era igual. Ele era ele, sempre foi ele.

Alguém que soube dar um honesto testemunho do mundo e de si mesmo aos homens. Agora compreendo. Foi essa integridade que nos atraiu, naqueles longes tempos... E que, até hoje, continua atraindo os seus leitores".



15 de jul. de 2022

Escrita à moda antiga

    Sob a guarda do Instituto Moreira Salles, encontram-se seis preciosas máquinas de escritores e estudiosos da literatura brasileira, como o euclidiano Olímpio de Souza Andrade, os romancistas Erico Verissimo, Lygia Fagundes Telles e Rachel de Queiroz, além da poetisa Ana Cristina Cesar. 
    O fascínio contemporâneo por esses aparatos parece coincidir com um ressurgimento de mídias analógicas, como o disco de vinil e a Polaroid.. . Nessas engenhocas mecânicas, cada letra do alfabeto se convertia em nota que compunha o romance, a carta, o poema etc. Além do som peculiar, o balé gestual que ela exige – desde a colocação da folha de papel à sua retirada – e a ação de “bater” em cada tecla para dar impulso ao mecanismo de gravação faziam desta uma forma muito corporal de escrita. 
    A história dessas máquinas começa em 1575, quando o italiano Francesco Rampazzetto inventou um apetrecho que imprimia letras em papéis. Em 1714, Henri Mill obteve a primeira patente de um dispositivo similar a uma máquina de escrever, cuja invenção, segundo o Museu da Ciência de Londres, só se concretizou em 1830, nos Estados Unidos, com o “Tipógrafo”, que imprimia uma letra após a outra e concedeu ao seu inventor, William Burt, o título de “pai da máquina de escrever”, embora a história seja um pouco mais controversa do que aparenta. 
    Ao longo do tempo, os aparatos sofreram diversas mudanças em sua estrutura e design, e a escolha de cada escritor parece, agora, simbólica. Enquanto Olímpio de Souza Andrade preferiu a sobriedade de uma Royal marfim, Erico Verissimo não resistiu à tentação de ter a mesma máquina em extravagante cor vermelha. A Royal, marca norte-americana das mais conhecidas no mercado, foi comercializada anos depois de sua concorrente, a Remington, que já era um sucesso comercial desde 1875, quando Christopher Sholes e Carlos Glidden patentearam seu modelo (Type-writer) e fizeram um acordo com a empresa para que fosse produzido em quantidade. Na Royal vermelha, o ficcionista gaúcho escreveu, dentre outros, a parte principal de seu último romance, Incidente em Antares, na casa da filha Clarissa, nos Estados Unidos.

Erico Verissimo com sua Royal vermelha, s.d. Fotógrafo não identificado. Arquivo Erico Verissimo/Acervo IMS


    Luis Fernando Verissimo conta que o pai escrevia na mesa da sala de jantar e, depois, no escritório, ou na “toca”, como gostava de chamar o lugar oficial de trabalho. Ali ficava a tarde toda, até cerca de 19 horas. A última máquina adquirida por Erico foi uma elegante IBM preta, elétrica, que parecia ser a sua favorita e também pertence ao seu acervo. Com destreza e rapidez, ele escrevia diretamente à máquina, deixando espaços entre as linhas para possíveis correções e alguns desenhos. 
    Essa forma de escrever diferia da maneira como trabalhavam as escritoras citadas, que, apesar das máquinas, não abandonaram a prática do manuscrito. É o caso de Lygia Fagundes Telles, dona de uma Remington Junior preta sempre colocada sobre a mesa de trabalho. A autora tinha o hábito de primeiro escrever à mão e só depois datilografar.

A Remington Junior preta de Lygia Fagundes Telles, 2013. Fotografia de Marcio Isensee. Arquivo Lygia Fagundes Telles / Acervo IMS


    No quarto de Ana Cristina Cesar ficava a Consul bege, que, às vezes, levava para a sala de jantar. Mas, segundo o poeta e amigo Armando Freitas Filho, a máquina só era usada para escrever artigos, resenhas etc. Poesia – regra geral para suas composições – era sempre escrita à mão. 
    E é curioso que o clássico de Rachel de Queiroz, O Quinze, tenha sido escrito a lápis, à luz de uma lamparina a querosene, ainda que, provavelmente, a moça de 20 anos incompletos não tivesse então acesso a uma S&N cinza como a que viria a adquirir no futuro. As máquinas teriam grande importância na vida de Rachel e, nem mesmo no ambiente rural e franciscano da fazenda Não Me Deixes, no sertão de Quixadá, onde viveu com a família e a que voltava regularmente, abriu mão de ter uma à sua disposição. Pelo olhar do fotógrafo Edu Simões, a máquina e a lâmpada, que substituem o lápis e a lamparina de outrora, não destoam, antes se harmonizam com as paredes caiadas de branco, a varanda e o piso de madeira, a rede e os mosqueteiros – véus que, ao sabor do vento, desvelam a passagem do tempo e conferem à foto e ao ambiente uma sensação de paz e esquecimento. Quase se pode ver a escritora sentada à mesa, em frente à máquina, que se tornaria seu principal instrumento de trabalho como jornalista.

A máquina de Rachel de Queiroz na fazenda Não me Deixes, 1997. Foto de Edu Simões. Arquivo Edu Simões/ Acervo IMS

Rachel de Queiroz com sua máquina de escrever, c. 1950. Fotógrafo não identificado. Arquivo Rachel de Queiroz/Acervo IMS


    Outro que se dedicou ao jornalismo e fez desta sua atividade principal foi Otto Lara Resende. É também a máquina como instrumento de trabalho – e muito mais do que isso – que se pode depreender do momento flagrado por Helena Lara Resende no escritório do pai.

Otto Lara Resende no escritório, 1992. Foto de Helena Lara Resende. Arquivo Otto Lara Resende/Acervo IMS

    Na foto, percebe-se a intimidade entre homem e máquina, a natureza solitária do trabalho do escritor e o balé gestual já referido: enquanto a mão esquerda segura as folhas já retiradas da máquina, a direita confunde-se com o próprio papel nesse movimento. 
    Se as máquinas caíram em desuso, o fascínio que exercem chegou ao séc. XXI e tem atraído cada vez mais jovens que só agora começam a descobrir os prazeres de escrever em uma Smith Corona, Underwood ou Remington. Elas voltaram a ser utilizadas, tanto nos type-ins, encontros em que aficionados se reúnem para escrever, quanto nas residências, como artigos de decoração. Para colecionadores há, até mesmo, um evento internacional: a International Typewriter Collectors Convention. A última edição ocorreu de 7 a 10 de agosto de 2014 em Milwaukee, Wisconsin, nos Estados Unidos.

LYZA BRASIL - 2014

4 de fev. de 2022

vídeo - Erico Verissimo e sua esposa Mafalda visitam o amigo Mario Quintana no Hotel Majestic

Uma produção de 1974 por Fernando Sabino e David Neves





 O escritor Erico Verissimo e sua esposa, Mafalda, passaram a lua-de-mel no Majestic Hotel, vindos de Cruz Alta, em 1931.

10 de jan. de 2022

vídeo - Artista Plástico Freddy Sorribas faz homenagem a Erico Verissimo em 1993

Vídeo de Freddy Sorribas na Biblioteca Erico Verissimo CCMQ

 


Anualmente a Biblioteca Erico Verissimo mantinha atividades voltadas para a divulgação das obras de seu patrono. Naquele ano de 1993, foram organizadas programações durante a semana como forma de dar destaque a sua obra literária. Uma delas foi à execução de uma obra pictórica relativa à literatura de Erico Verissimo. Essa obra foi executada nos dias 17 e 18 de dezembro, no espaço interno da Biblioteca, onde ficou exposta até o ano de 2020.





Freddy Enrique Sorribas Crespi (1948 -2017) foi um artista Uruguaio.
Começou a estudar pintura em 1957 e teve a oportunidade de ter aulas com Américo Sposito e Carlos Llanos e a partir desse momento continuou a desenvolver-se como artista, onde utilizou cores fortes e poderosas, bem como o intenso sentimento pessoal sobre elas.
Reconhecido por seus trabalhos, é considerado um artista que desenvolveu suas técnicas de precisão e vigor, além de sua expressão de liberdade. Sua carreira foi premiada em diversos locais como Porto Alegre, Nova York, Buenos Aires e também em Acapulco.




5 de nov. de 2021

Casa de Cultura Mario Quintana - março de 1991- Projeto Original



APRESENTAÇÃO

A Casa de Cultura Mario Quintana foi pensada e planejada para a realidade cultural do Rio Grande do Sul. Deve, portanto, ter a clara consciência de estar situada num país de terceiro mundo, com suas limitações e carências, e saber tirar proveito deste fato: se faltam meios, há tempo e espaços disponíveis e cabe a nós preencher este tempo e ocupar os espaços.

Deve repensar sua latinidade sem traumas, de forma positiva.

Deve buscar o contemporâneo, sem esquecer as raízes e as etnias que contribuíram para a sua formação.

Deve ser ágil, dinâmica, criativa, inquisidora, crítica, buscando o acerto mesmo através do erro; adolescente e não senhoril. E deve, principalmente, ousar, e ousar muito, pois somente aos que têm ousadia é dado acordar no futuro.

Sergio Napp Diretor da CCMQ

HISTÓRICO

Início do século XX. A modernidade estava presente em todas as correntes do pensamento humano. A era moderna, iniciada no final do século passado, trazia a ciência e a tecnologia a serviço do homem. Os automóveis, os aviões, o telefone e os grandes movimentos culturais transformavam o perfil das capitais.

Em meio a esta agitação cultural, nascia na Porto Alegre província um projeto audacioso. O arquiteto alemão Theo Wiederspahn, contratado por Horácio de Carvalho, surpreendia a todos ao projetar em estilo neoclássico, dois prédios interligados por passarelas, que cruzavam por cima de uma via pública e tinha em seu topo duas cúpulas. Em 1923, os irmãos Masgrau, arrendatários do prédio, inaugurariam ali o Hotel Majestic.

As características diferenciadas do prédio e o atendimento dos arrendatários dariam popularidade ao local. No hotel desfilavam artistas, intelectuais e personalidades, como os ex-presidentes Getúlio Vargas, João Goulart, o escritor Erico Veríssimo e os cantores João Gilberto, Dalva de Oliveira, entre muitos outros.

O tempo foi passando, a cidade romântica do início do século foi crescendo, dando lugar aos grandes e frios espigões, a violência e a poluição. Surgia a decadência e a desumanização de que padecem as áreas centrais de todas as grandes cidades.

O grande Hotel Majestic não escapou a esta realidade. Entrava na década de setenta longe de seu esplendor, deixando de ser um hotel tradicional, para abrigar, basicamente, moradores permanentes.

Um de seus mais ilustres moradores foi Mario Quintana. O poeta ali viveu de 1968 até 1980, quando o prédio foi fechado definitivamente como hotel.

Sem brilho, desgastada e consumidas pelo tempo, a bela edificação estava ruindo. Eram os vazamentos e pinturas descascando e rebocos caindo. Mesmo assim, a obra projetada no início do século, ainda chamava atenção pela importância arquitetônica e histórica. Precisava ser preservada e recuperada.

Em 1980, o Governo do Estado, através do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, adquire o prédio. Evita-se assim, uma provável demolição para dar lugar a outro espigão.  Já se pensava nesta época em instalar um centro de cultura no prédio do antigo Majestic. Começaria uma nova etapa para o surpreendente edifício que havia funcionado como hotel por 57 anos. Permanecendo desativado por mais de dois anos, em março de 1983 um espaço de exposições é inaugurado no térreo, sendo o prédio reaberto na tentativa de instalar o centro de cultura. No mês de julho do mesmo ano, um projeto aprovado na Assembleia Legislativa denomina o novo espaço cultural de Casa de Cultura Mario Quintana, homenageando o grande poeta e antigo morador do então Hotel Majestic. Dois anos mais tarde, o prédio seria tombado pelo patrimônio Histórico e Artístico do Estado.

A partir de sua abertura como Casa de Cultura, e por seis anos o prédio funcionaria precariamente. A primeira administração esteve a cargo da professora bibliotecária Ivette Zietlon Duro, substituída em 1984, pela artista plástica Iara Gay Castro e posteriormente, em 1986 pela especialista em educação, Maria Gercira de Moura Diniz. Devido à falta de condições do edifício era possível utilizar tão somente o térreo e o primeiro andar.

O Hotel Majestic para abrigar a sonhada Casa de Cultura pedia restaurações urgentes. Constatada, a total impossibilidade para desenvolver qualquer trabalho naquelas condições, iniciou uma verdadeira luta na busca de recursos no sentido de recuperação e reciclagem da edificação. Conforme algumas ideias, das administrações estaduais anteriores, a obra poderia levar até trinta anos para ser concluída. Porém, durante a administração Simon-Guazzelli, em 1987, sob a direção do engenheiro e artista Sérgio Napp, um projeto do que deveria ser uma Casa de Cultura começou a ser estudado junto com a sua recuperação. O prédio viabilizava a ocupação de seus espaços internos para as mais variadas atividades. Em julho, deste mesmo ano, o estudo preliminar foi apresentado ao público e as instituições culturais para ampliar as discussões sobre o futuro da obra. Em março de 1989, o anteprojeto de autoria dos arquitetos Joel Gorski e Flávio Kiefer, foi concluído. O projeto dotaria o prédio de uma total integração em todas as áreas internas, onde se desenvolveriam as atividades culturais. Num trabalho inovador, em termos culturais e arquitetônicos a futura Casa de Cultura Mario Quintana permitiria um contato visual de todos os trabalhos presentes em seu interior. O novo lado a lado, com o antigo.

PROJETO

O projeto previu ainda a necessária infraestrutura moderna para o seu perfeito funcionamento. Iluminação, prevenção contra incêndios, ar condicionado, computador, antena parabólica e outros itens que fariam da Casa de Cultura Mário Quintana das mais completas da América Latina. Em julho de 1989, foi assinado o contrato entre o Estado e a empresa que viria realizar a obra. A Casa foi fechada para dar lugar ao canteiro de obras.



A postagem apresentou a introdução do folheto original.

O folheto completo está disponível para consulta local na Biblioteca Erico Verissimo.


VIVA A VIDA! Um dos últimos textos de Erico

SUPLEMENTO ESPECIAL - ZH - 17/12/75 Um dos últimos textos escritos por Erico Verissimo, há pouco mais de um mês, foi para a apresentação de ...