23 de dez. de 2020

Conto natalino do escritor Erico Verissimo publicado em 1939 na revista O Cruzeiro

O texto foi redescoberto pelo jornalista e pesquisador Vilmar Ledesma. 

O conto passeia pelos bairros de uma Porto Alegre de cadeiras na calçada e bares alemães.

Em dezembro de 1939, uma edição especial de Natal da revista O Cruzeiro, trazia, nas páginas 34, 35 e 36, um misto de conto/crônica de Natal assinado por Erico Verissimo. A narrativa passeia por vários bairros da Porto Alegre de 1939, flagrando diferenças sociais e étnicas da cidade ao retratar como tipos característicos de cada vizinhança encaram a noite de Natal. É o retrato de uma Porto Alegre ainda muito germânica, algo que a II Guerra, que naquele ano já havia eclodido na Europa, mudaria muito.

Video no youtube Porto Alegre de Erico Verissimo


NOITE DE NATAL EM PORTO ALEGRE

POR ERICO VERISSIMO

As estrelas caíram no Guaíba.  Piscam luzes nas ilhas escuras.  O motor duma lancha bate surdo e alto como um enorme coração medroso.  Junto do cais há uma floresta desgalhada de mastros.  A água marulha, mole, bate no costado dos barcos adormecidos.  Na proa de um  navio alemão que veio de Hamburgo recorta-se o vulto dum homem.  Dou uma estrela pelos seus pensamentos:  talvez ganhe, em troca, um lindo poema.  Dou duas estrelas... três estrelas... todo o céu... Olhe que vou bater... Todo o céu, meu romântico marinheiro, inclusive a lua, as nuvens e os querubins... O homem continua imóvel.  Nada feito.  Sigo adiante, passo pelos guindastes que não têm Natal.  Paro para contemplar um veleiro, vejo luzes lá dentro, ouço vozes, o som duma cordeona.  Depois é uma barcaça de carão, uma draga, de novo um navio mercante.  Um caíque se aventura rio em fora, um vulto rema sereno, a noite é tão silenciosa ali no cais que julgo ouvir a suave batida dos remos ferindo a água.  Decerto aquele homem vai pescar estrelas.  É preciso uma grande rede para pescar estrelas.  (Quando é que a gente se livra do fantasma do Tagoro?)  Jogo o meu cigarro no rio, desejo-lhe um “Feliz Natal!” e sigo para a cidade.

DIÁLOGO

- No Norte, o Natal é diferente... – dizia meu amigo pernambucano.

- Este entusiasmo pelo Natal – expliquei – este costume de enfeitar pinheirinhos e fazer que o Papai Noel apareça na véspera de Natal, nos foram trazidos pelos imigrantes alemães.  Ensinaram-nos também muitas outras coisas.  Algumas boas, outras más...

- É curioso.  A filha do dono de minha pensão dá a Papai Noel um nome esquisito.

- Pelznickel... Era assim que muitas das crianças de meu tempo lhe chamavam... Christkindchen é o Menino Jesus... e não eram só as c rianças de sangue alemão que conheciam  e usavam esses nomes...

Pausa.  Continuamos a andar.  Aproximamo-nos da rua dos Andradas.  Mergulhamos no clarão dos combustores e dos letreiros luminosos.  A rua está negra de gente.  Dos cafés vem o clamor de vozes, risadas, música...

Meu companheiro para debaixo de um grande anúncio a gás neon.  Por um instante seu rosto fica purpúreo, e eu penso no conto de Poe A Máscara da Morte Vermelha...

BAR ALEMÃO

Em cima do balcão de mármore, perto da máquina registradora, ergue-se uma minúscula árvore de Natal.  As velas coloridas estão acesas, e os penduricalhos lampejam, refletindo as luzes da sala.

As mesas acham-se quase todas ocupadas.  Sentamo-nos perto do aquário.  Um dos peixinhos japoneses encosta o focinho no vidro, à altura de minha cabeça, e fica me olhando.

- São conhecidos? – indaga o meu companheiro.

- Ah... conhecemo-nos de cumprimento.

Um garçom se aproxima.  Pedimos chopes.

Uma vitrola arremessa para o salão os compassos duma valsa de Strauss.  Aceitamo-la como se aceitam as coisas inevitáveis.

Olha em torno.  Talvez sejamos os únicos brasileiros puros (puros?) no bar.  Só vejo epidermes claras, algumas caras apopléticas, cabeleiras que vão desde o castanho bronzeado e chegam, via-ruivo e cor-de-palha, até o louro de platina.  Um minuto de silêncio em homenagem a Jean Harlow.

- Prosit! – diz meu companheiro.

- Prosit – respondo.  E, depois do primeiro gole, ainda com um  bigode de espuma, acrescento – Qual!  O de que nós dois precisamos é de uma bela nacionalização...

As conversas crescem, sobem como ondas quentes.  Faz calor.  Um senhor gordo passa o lenço pela nuca vermelha, lustrosa e pregueada.  Uma vasta senhora ciclópica abana-se com um leque, bate com ele nos seios fartos que decerto já amamentaram algum Siegfried.

As paredes do bar estão eriçadas de pontas de cervo.  Viva a falta de malícia germânica!

Os peixes nadam por entre algas.  Faz de conta que elas são as suas árvores-de-natal.  Mas... nada de sentimentalismos em torno de peixes.

Strauss retirou-se de cena.  Agora saem da vitrola os acordes duma doce melodia conhecida.  Há como que um vácuo na sala:  um súbito buraco de silêncio se abre.  E de repente, sem o comando dum maestro, todos começam a cantar “Sttile Nacht, Heilige Nacht...”  Parece que se sentem felizes.  Mas duma felicidade triste.  Lembram-se decerto de Vaterland.  E no entanto muitos deles são apenas netos de alemães, nunca viram a Alemanha a não ser em cartões-postais.

Raça... uma grande coisa, amigo!  Mas que perigo!  Pegamos o chope e saímos.

COMISSÃO JULGADORA

Concurso de árvores de natal instituído por uma grande empresa.  Lá vai serenamente dentro dum Lassale a comissão julgadora.  Poetas, jornalistas, pintores, escultores e um senhor do comércio local.  Visitam as casas que se inscreveram no concurso.  São recebidos com amabilidades, doces e bebidas.  Na primeira casa, tudo ótimo.  Uma linda árvore.  Crianças adoráveis.  Um casal muito simpático.  Passam para a segunda casa.  A mesma cena.  Mais bebidas.  Já o mundo, para a comissão julgadora, passa a ser um estranho lugar cheio de alegrias fumegantes, de gente adorável e da mais absoluta e excitante alegria.  Terceira casa.  “Agora queremos oferecer aos senhores alguma coisinha para beber...”.  Ótima ideia.  E lá se vai a comissão julgadora.  Quarta casa.  O presidente da comissão entra na sala, olha a árvore de Natal e depois chama o secretário para um canto e, com voz arrastada e grossa, lhe pergunta:

- Senhor secretário... não acha... não acha... que é um esbanjamento inútil... fazerem... du... duas árvores de Natal?

O secretário, que já não pode com o peso das pálpebras, fixa o olhar no pinheiro enfeitado e protesta:

- Perdão, Senhor presidente... Duas não... Três!

NA FLORESTA

Passamos por uma casa de janelas iluminadas.  Relanceio os olhos para dentro da sala.  Basta aquela visão rápida para eu recompor depois mentalmente a cena.  O dono da casa deve se chamar Shultz ou Schmidt.  Trabalha numa firma alemã da Rua Sete.  Tem três filhos:  Willy, Karl e Trude.  Estão esperando o Pelznickel...  A árvore de Natal vem exercen do suas funções regularmente há seis anos, desde que Willy nasceu.  Frau Schultz ou Schmidt fez uma linda cuca.  Há dois barris de chope na área.  Os rapazes da firma vão aparecer.  “Que farra!” – antegoza o senhor Schultz ou Schmidt.  Cantarão abraçados canções engraçadas.  Pelznickel vai trazer uma boneca para trude, soldadinhos nazistas para Karl e um avião de bombardeio para Willy.

NA RUA DUQUE

É uma casa alta e antiga, com azulejos.  Família tradicional.  Grande árvore de Natal na varanda.

O dono da casa é médico.  Tem quatro filhos.  Os dois primeiros acreditam em Papai Noel, os outros dois não.

O rádio enche a casa de música.  Vozes alegres se escapam pelas janelas escancaradas.

Dona M aria vai buscar os gelados no refrigerador.  Na grande mesa alinham-se pratos com sanduíches, nozes, avelãs, castanhas e passas.  Ouve-se o estouro de uma garrafa de champanhe que se abre.

Não há canções tradicionais.

O senhor nacionalista conversa com um tenente do exército:

- Pois é.  Precisamos acabar com esses estrangeirismos.  Nada de Papá Noel ou de Pelznickel.  Vovô Índio... É... Vovô Índio.  Que diabo!  Temos neve?  Temos pinheiro?  Isso é coisa para a Europa.

- A América para os americanos – obtemperou o oficial.

O senhor nacionalista fica um instante pensativo e depois continua:

- E  porque não promovemos o nosso Negrinho do Pastoreio a papai Noel?  Ficava admirável.  Em vez de pinheiro, um umbu... ou outra árvore menor...  Bastava acender uma vela para o Negrinho e ficar a pedir um presente...

Ficou sorrindo não para o tenente mas para a própria ideia.

CIDADE BAIXA

Aqui nessa zona de casas melancólicas, pequenas e velhas começou a cidade.  Olho discretamente para dentro de uma casa de porta e janela e vejo uma árvore de Natal solitária no centro da pequena sala.  Luz amarelada a alumiar meia dúzia de caras tristes.  Casa decerto de um modesto funcionário público que não foi contemplado no reajustamento.  Ele, a mulher, a filha solteirona, a filha noiva ao lado do eterno noivo (que decerto também não foi contemplado em coisa nenhuma nesta vida).  Estão tristes e graves, parece que a árvore de Natal é uma criança morta e eles estão ali em silêncio, velando o anjinho...

NOS NAVEGANTES

Para as famílias que moram nas velhas barcaças encalhadas na praia do Navegantes não há Natal.

NOS MOINHOS DE VENTOS

Palacete dum industrialista alemão que ficou rico com a guerra (a primeira).  Grande parque com palmeiras, pinheiros e outras árvores que a escuridão e a falta de conhecimento de botânica me impedem de classificar.

Janelas fechadas.  A fraulein que cuida da casa saiu com o namorado, um mecânico ruivo e atlético.  Decerto a esta hora estão bebendo num bar qualquer.

Os donos da casa foram passar o Natal na Alemanha.

NO BONFIM

O Bonfim é o “ghetto”.  Lojas, cafés, dois cinemas, judeus velhos sentados nas frentes das casas, barrete negro na cabeça, barbas longas grisalhas ou completamente brancas.  Mocinhos e Mocinhas a passear nas calçadas.  O Centro Social Israelita.  Salões de bilhar.  Aqui e ali uma casa de família brasileira.

Para esta gente Cristo ainda não nasceu.

Mas aquela meninazinha que ali está na calçada, de dedo na boca, e que se chama Lea, deita olhares compridos de inveja para a árvore de Natal que cintila na casinha da família brasileira.

COLÔNIA AFRICANA*

Uma zona em que as fronteiras do “ghetto” e da Colônia Africana se misturam.  Começamos a ver negros e negras endomingados para festejar o Natal.  Alguns deles foram ao “cabelizador” alisar a carapinha, muitos botaram na cabeça, no lenço, na lapela uma loção que tem um cheiro que lembra o doce de batatas.

A rua é de terra batida cor de rosa.  A casa, de tábua.  A família é grande e há muitos convidados.  A maioria deles se acha no terreiro, debaixo das árvores.  Um mulato cabelizado toca um violão.  Um preto começa a tocar um samba.  O refresco corre a rosa (framboesa, naturalmente).

Na sala de visitas há um presépio encardido.  E também um pequeníssimo e esmirrado pinheirinho cheio de curiosos enfeites: vidros de iodo vazios, lâmpadas elétricas queimadas, colares de contas coloridas, vidrilhos e flores de papel de seda.

Tudo indica que a festa vai acabar em macumba.

DÚVIDA

Nas ruas alguns homens se abraçam e quase todos parecem alegres.  Desejam-se bom Natal e muitos aproveitam o pretexto para tomar tremendas bebedeiras.

- Eu só queria saber uma coisa...

- Que é? – indagou o companheiro.

- É se essa gente realmente se lembra que hoje se festeja o nascimento de Jesus...

O amigo parou, franziu a testa numa careta de estranheza e exclama:

- Mas é mesmo, rapaz!  E eu que nem me lembrava disso!?

NOTA SENTIMENTAL

O Natal do poeta solitário que não tem família nem esperança e que anda pelas ruas como cachorro sem dono a olhar para as estrelas?

Oh!  Não... Mil vezes não!


Revista O Cruzeiro, 23 de dezembro de 1939

 

  • A região em que se localizava a Colônia Africana é o hoje bairro Rio Branco (nota do editor).


Fonte:  ZeroHora/Caderno PrOA em 19/12/2015

 

 

23 de set. de 2020

Pronunciamento do Deputado Estadual Ruy Carlos Ostermann, autor do projeto de lei nº23/83, que deu nome à Casa de Cultura Mario Quintana ao ex-Majestic Hotel.

 Dia 28 de junho de 1983 na Assembleia Legislativa.


"Sr. Presidente, Srs. Deputados:


Nesta casa se presta, neste momento, a homenagem talvez estranha mas indispensável à poesia.

Em tempo de extrema dificuldade para a articulação até mesmo das frases, em tempo de extrema penúria para o conteúdo das frases, em tempo de silêncios, em tempo em que a palavra não se ouve e ela se cala, me parece que lembrar que um prédio, da mais bonita e saudosa arquitetura de Porto Alegre, o ex-majestic Hotel, seja agora transformado em Casa de Cultura e que por iniciativa de um Projeto de Lei desta Casa possa esta Casa de Cultura denominar-se 'Mario Quintana', eu penso que se está, sob muitas formas, agradecendo, retribuindo, devolvendo de algum modo a alegria, a justeza da frase, a capacidade de embevecimento e, sem dúvida, os valores morais, estéticos e de humanidade de um Poeta.

Esta Casa tem se caracterizado pela defesa intransigente de fatos imediatos, dolorosos, cruéis e contundentes. Poucas vezes ela pôde, no entanto, demorar-se numa atitude, talvez, até surpreendente, para abrigar, na generosidade, a um Poeta e designar-lhe então um lugar na cidade, na cidade que ele sempre amou, que ele soube amar nos seus desvios, nas suas esquinas, que ele soube, sobretudo, amar na sua paisagem humana.

Este homem que solidariamente, durante algum tempo, justificou quase que a preservação do ex-Majestic Hotel, esse homem que transitava solitário por aqueles arredores e que lá, certamente escreveu algumas das páginas, alguns dos versos que hão de ficar na memória, na sensibilidade brasileira, está a merecer hoje, nesta Casa - e estou fazendo o encaminhamento da votação - um gesto que eu entendo que é de todos nós, pela forma unânime com que foi acolhido pelos pareceres favoráveis que recebeu, nós estamos finalmente dando de volta, não com a generosidade e nem com a grandeza do Poeta, mas com, enfim, a nossa possibilidade politica, estamos dando de volta alguma coisa desta ampla, indiscutível, admirável, contínua doação ás pessoas, que é a poesia de Mario Quintana.

Penso que assim se faz uma pequena justificativa e com isso se justifica o Projeto, que ora encaminhamos".

A cerimônia de votação, apresentação, pareceres, discursos e leituras foi assistida por grande número de pessoas e, principalmente, por Mario Quintana. Após a aprovação, ovacionada por todos, o Poeta subiu à tribuna para um breve e emocionado pronunciamento que a todos comoveu:

“Aqui estão todas as correntes reunidas em torno da poesia, e é em nome da poesia que agradeço aos senhores”.

 

·        KOSLOWSKY SILVA, Liana. Majestic Hotel – Memórias de um Monumento, v46, p114-115 - 1992


28 de mai. de 2020

Literatura do Rio Grande do Sul - O Pártenon Literário

Na metade do século XIX, em um período de grande efervescência político-social, causado pelos movimentos republicanos e abolicionistas, ocorreu a fundação da Sociedade Pártenon Literário - na cidade de Porto Alegre, cujo presidente era o autor Caldre e Fião. Tal sociedade reuniu diversos intelectuais rio-grandenses da província de São Pedro que exploraram os mais variados gêneros literários. Os nomes mais importantes foram Caldre e Fião, os irmãos Apolinário, Aquiles e Apeles Porto-Alegre, Carlos Von Koseritz, Lobo da Costa, Hilário Ribeiro, Múcio Teixeira e Luciana de Abreu. O grupo também produziu uma revista, que seria o mais importante veículo de circulação do debate cultural gaúcho do período.

O Pártenon Literário cessou suas atividades literárias por volta de 1896.

Livraria Americana, na Rua da Praia X Rua da Ladeira, era ponto de encontro dos associados no fim do século XIX.
 

Duas obras do período que pode se destacar: 


Caldre e Fião - José Antônio do Vale Caldre e Fião (Porto Alegre, 15 de outubro de 1821 — 30 de março de 1876) foi um escritor, jornalista, político, médico e professor brasileiro. É considerado o patriarca da literatura gaúcha.

A Divina Pastora, romance, 1847;(o primeiro romance da literatura gaúcha e o segundo da história da literatura do Brasil). Publicado no Rio de Janeiro, com o subtítulo “Novela Rio-grandense”, dele, porém, não se conhecia um só exemplar, pois todos os da primeira edição tinham desaparecido misteriosamente, de modo que a obra se transformou em um dos maiores enigmas. Depois de 145 anos de grandes esforços de bibliófilos e pesquisadores, finalmente, em 1992, o livreiro Adão Fernando Monquelat, de Pelotas, localizou em Montevidéu, no Uruguai, o único exemplar até hoje conhecido de A Divina Pastora, que foi reeditado pela RBS no mesmo ano.
Caldre e Fião pertence a tradição do “folhetim”. Tratava-se de narrar uma sequência de aventuras em sucessão episódica, cuja leitura podia ser feita capítulo a capítulo, independentemente do resultado final. Via de regra, cada episódio correspondia a um “rodapé“ do jornal em que o romance era publicado.

























Apolinário - Apolinário José Gomes Porto-Alegre (Rio Grande, 29 de agosto de 1844 — Porto Alegre, 23 de março de 1904) foi um escritor, historiógrafo, poeta e jornalista brasileiro. É considerado um dos autores mais importantes do Rio Grande do Sul.
A obra de Apolinário Porto-Alegre possui como características o regionalismo e o romantismo. O Rio Grande do Sul é a temática de várias publicações, sendo sua principal O Vaqueano, de 1872. Alguns críticos afirmam que a obra foi inspirada no livro O Gaúcho, de José de Alencar.


fonte:

23 de abr. de 2020

Tempo de Mario Quintana


"SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS" ou "O Tempo" - livro Esconderijos do Tempo - 1980


A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.


Quando se vê, 
já são seis horas!
Quando de vê, 
já é sexta-feira!
Quando se vê, 
já é natal…
Quando se vê, 
já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, 
outra oportunidade, 
eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: 
não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.


O Tempo e o Vento


Havia uma escada que parava de repente no ar
Havia uma porta que dava para não se sabia o quê
Havia um relógio onde a morte tricotava o tempo


Mas havia um arroio correndo entre os dedos buliçosos dos pés
E pássaros pousados na pauta dos fios do telégrafo


E o vento!


O vento que vinha desde o princípio do mundo
Estava brincando com teus cabelos...



Ah! Os relógios - livro “A Cor do invisível”, 1989.

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:

não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna somente por si mesma é dividida:não cabe, a cada qual, uma porção.


E os Anjos entreolham-se espantados quando alguém - ao voltar a si da vida -acaso lhes indaga que horas são...

A Livraria do Globo da Rua da Praia

  A escultura de ferro no topo do prédio da Rua dos Andradas (Rua da Praia), talvez continue despercebida devido à pressa dos dias de hoje. ...